domingo, 23 de outubro de 2016

NOTA *



*
Prezados leitores, sirvo-me desta postagem para comunicar-lhes que estou saindo do diariobranco.blogspot.com para minha nova página. Os senhores poderão acessá-la no endereço abaixo:

http://www.recantodasletras.com.br/autores    Corina Sátiro


Aproveito esta oportunidade para deixar minha imensa gratidão a todos que me acompanharam durante todos estes anos lendo e comentando meus textos.


No aguardo de sua visita em minha nova página, despeço-me.


Atenciosamente,


Corina Sátiro


23/10/2016

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Rabiscos

Ouço seus passos lentos por uma estrada de pedras, e num momento de emoção indescritível vejo um riacho em suas mãos abertas em conchas
Vejo-o cerceado pela mata ciliar refletida intensamente no brilho de seus olhos

Trazendo o tom de minhas cores preferidas, me presenteando o que sai por sua boca, nariz, ouvidos e olhos escorrendo em minhas mãos... "obrigando" a mulher estática mover-se, mostrar-se.

Que dispa-se então a mulher estática!
Que sorte minha receber sua imagem assim, - uma alma nua transportando riachos.
Vejo-a antes por dentro e posteriormente por fora em suas cores e mãos a aquecer meus sonhos, levando-me ao mergulho inevitável.

Sinto o que se move nas águas que me banham o corpo enquanto meu coração é desenhado em seu leito amplo.

Tão amplo que perde-se em horizontes que me fecham os olhos ao abrir com destreza os segredos de um enferrujado cofre onde guardo apenas segredos

Confundindo seus cílios com o riacho que lhe nasce na aparência fria do medo que de dentro lhe brota sigo em sua direção porque tudo em você vem de dentro e mistura-se a beleza da capa rara que lhe veste.

Sua alma límpida é como as águas cristalinas que se vê no riancho seguro nas mãos transbordando sentimentos...

E de manhã lhe escrevo estes tolos versos.

20/10/2016

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Confidências Por Telecinesia


Será !?
Sabes.
Entendes,
Mandas todas as cartas do jogo.

Entendes. Entendo.

O quanto podes decifrar-me em minhas loucuras tão descabidas (?)
Por que somos seres iluminados!?
Não sabemos nada (ainda).

Ainda que eu me atirasse nas sombras de versos e rimas desastrosas tu me entenderias muda, cega; ainda assim podes ver-me com trasparência.
Bem sabemos que podes.

Se digo te amo quando acordo pelas madrugadas... Duvidas.
Restamos nós como "anormais" em percepões nas entrelinhas, em telecinesia.

Nos cabe saber:  escrevemos - e tomamos o empréstimo de todas as artes ao nosso alcance - e, com mensagens engarrafadas e misturadas ao vinho que embriaga - lançamos ao mar perguntas e respostatas às nossas dúvidas, e estas não se perdem nunca.

Fascina-me teus sonhos e olhares em nuvens que me preparam para a chuva fina que me toma a vestimenta da paixão e dos olhos vermelhos.
Tu choras e eu choro silenciosamente para que não ouças e beijo teus lábios molhados.

Tens olhos a alcançar nesta distância incauta o meu jeans azul desbotado por minhas andanças à procura dos olhares teus, que me deixam atônita e disforme ao viajar em tuas roupas atiradas ao chão quando te cansas num turbilhão de emoções que também me invadem.

Por que me entendes tão brilhantemente e me responde em fotografias que tens expostas em tua galeria ?

E te observo das calçadas pelas vidraças embassadas dos cigarros que tragamos por ansiedade.

Frente tal galeria,  como mendiga atento para o brilho retratado em teus  gestos, olhares,  perguntas... As quais aqui respondo com olhos nos olhos neste momento de sonhares que me tomam pela madrugada.

Ainda que eu apenas te mostrasse aos ouvidos e olhos sonoridades jamais entoadas ao dedilhar prantos em minha flauta verde do alto das montanhas
em completa solidão perceberias meus desalentos lacrimejando ao cantar aos estranhos que rumam para a vida que têm ou que acham ter.
Estarias mergulhando nos sons que te ofereço.
Sons que soam em nós.
Sons que sobem à tua mente cansada.
Mas sabes interpretá-los e decifrar cada nota musical ou escrita que rabisco.

Decifras, por um acaso meu amor por ti ?
Consegues decifrar, então vê o que tenho guardado por meses somente para te presentear, para te oferecer...

Como sabes,  é o "segredo" que guardaram em nossas mãos que não se abrem ao anoitecer, nem ao amanhecer neste momento, mas tocam-se e entrelaçam-se na noite. Tocamo-nos feito crianças curiosas...

E eu vejo estrelas em teus pés , em teus passos, bem sabes.
Ciúmes ? Existe a probabilidade... Há o momento em que nos tornamos adolescentes cheios de hormônios a trasformar-nos. Disto não temos conciência. É fato.

Olha-me agora, nua e transparente. Olha-me agora nos olhos e tirarás todas as dúvidas que não tens.
Trata-se de uma confusão mental.
O que amamos está bem guardado para um dia de chuva.
Bem sabes ao interpretar o que há em minhas mãos.
Vemos e sentimos nossas emoções.
Vemos e sentimos nossos corpos e almas.
E tinha que ser assim. Nada planejamos, apenas sentimos.
O universo conspira e impera, sempre.

Corina Sátiro - 19/10/20!6.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O Belo

Lindo como o sol que brilha em minha pele rejuvenescida pela macies de um toque terno e incomum que desequlibra e reduz os poucos minutos que tenho para resistir e não deixar que me enlace.

A fuga acelerada me leva ao meu reencontro suave, lúcido, sem desvario.
Prenuncia um futuro que necessito agora para fugir de tudo o que me levaria a um total descontrole e desequilíbrio, destes que nos racham ao meio, daí haveria arrependimentos e súplicas por redenção.

É um deus enigmático,
cheio de nuances
de cores, de beleza exótica;
um fruto doce e cítrico,
de laços e nós que apertam-se sem possibilidade de desatarem,

uns pingos de chuva no verão que ferve em sua própria tez nua, quente e única, que lembra o vento soprando como brisa leve em minha direção com olhos de fogo.

Veio com a lua cheia, feito lobisomem
em sua agilidade saltando sobre as desordens de minha alma embriagada de sentimentos que incitam a violação de tudo o que comumente trazem sossêgo
para as resistências.
Poderia me aliciar, e então, me salvo de mim, como tantas vezes fiz.

Corina Sátiro - 17/10/2016

domingo, 16 de outubro de 2016

Burburinho


Não consigo descrever o que sinto.
E na espera do entendimento do que vivo vou seguindo pelas páginas "roubando" com olhos espertos as ilusórias dissertações e agradecendo as homenagens nos poemas que recebo.

Sufoquei a voz e agora estou sem palavras.
Não quero sambar em um carnaval fora de época apesar de lindas avenidas arrastarem-me os pés.
Por ora, aguardo minhas emoções dizerem algo novo, então prefiro o breu de minhas cavernas onde sinto-me segura.

Sem frio, sem medo, sem tempo certo, sem a luz do dia que arde em meus olhos,  sigo o brilho das lanternas de minha história a catar palavras que possam descrever sentimentos confusos que desnorteam-me.
Meus olhos observam a negritude do dia escondido atrás das muralhas que crio na lentidão das horas.

Talvez vocês não entendam, mas lhes direi: há uma estranheza nos versos sem rima, mas não me importo, e deixei de interessar-me por coisas que "determinam" o que devo criar ou fazer. Criarei agora o que quiser.
Nada mais.
Me apego ao nada e atiro a esmo.

Não admiro o que escrevo neste caderno amarelado, apenas escrevo.
E não ligo para as opiniões por não me importar com críticas. Danem-se todos!

Sinto por isso. Não me julguem.
É sábio não julgar.
Interem-se pela lógica ao assuntar o que desconhecem.

Sigo assim, ainda me importo por mim e interesso-me apenas pelo que acho que devo trazer às mãos e as idéias

Fiquei em paz ao despedir-me das luzes de um olhar , senti-me livre ao esquecer o passado.

Estou no silêncio da profundidade dos rios e ouço o burburinho das águas que sacodem o leito borbulhando sons que desconheço sob a proteção de Iara.

Corina Sátiro - 15/10/2016

sábado, 15 de outubro de 2016

Algumas Palavras


Palavras podem ser esculpidas
Sim, Podem!
Em sonoridades, escritas...

Podem inspirar um suspiro
Ou até mesmo um delírio lascivo e absurdamente atraente
Acreditem!

Ditas, escritas, desenhadas ...
Podem encantar, desencantar; podem fazer sonhar
Têm em si um grande poder sedutor as tais letrinhas quando encontram-se

Poder ser um acariciamento

Podem ser feias, frias ou sem sentido algum

Algumas são vastamente vazias -  triste
Gosto muito das palavras
Mas em alguns momentos prefiro flores presenteadas pelos cavalheiros cavaleiros medievais
ou pelos mais simples camponeses de minha terra

Às tantas palavras feias, frias, rudes, somos por vezes impermeabilizados da razão ou completamente destroçados
E enfeitiçados e criamos um mundo de fantasias

Sentimentos descritos, traduzidos, transcritos
Trazem grande responsabilidade a quem as escreve
Podemos ter o escritor, o leitor nas sombras das entrelinhas

Belíssimos ou "feios", desinibidos ou simplesmente desintessados neste vasto universo maravilhoso.
Às vezes nos ressuscitam ou nos "matam"

Corina Sátiro - 14/10/2016

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Prisioneiros das Convenções

Limitados em ciências ocultas
E enclausurados no mau cheiro do bolor derramado

Carregam suas crias ao matadouro
São soldados desavisados e desarmados

Quem estaria do outro lado do muro a fotografá-los
servindo-se apenas de um olho num buraco aberto no muro?

Os céus estão muito acima para servir-lhes de ponte para a passagem e
em um buraco no muro um olho está aberto como uma boca de tubarão

A neve cai suavemente, as árvores estão a tremer no furacão
E perdem suas folhas, o cão ladra no breu, a dissonância estabelece-se e levanta o muro!

A passagem para a vida torna-se iminente através do caos
Então, estaremos a apenas a alguns segundos da verdadeira luz

 13/10/2015.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Na Berlinda


- O que são dias ensolarados ?
- Vida.

- O que a enfureceria ?
- Mentiras, falta de caráter, encenação...

- Onde está teu juízo ?
- Enraizado em fantasmas.

- De onde viestes ?
- De um arquivo morto.

- O que te encanta?
- A senssatez, a sinceridade, a lealdade e bons princípios.

- O que te acelera o coração ?
- O tudo de um todo.

- Quem tu levarias contigo se morresses agora ?
- Ninguém. Minha morte me levaria a caminhos permitidos somente a mim.

- O que ou quem te faria feliz ?
- Velas içadas para a partida ao mar aberto.

- O que te deixa irrequieta agora ?
- O sono dos injustos.

- Quais são tuas perspectivas para o futuro ?
- Encontrar meus amigos para festejar meu despertar.

- O que te acalma ?
- O voo noturno para plainar no horizonte olhando as estrelas sempre que me é permitido.

- O que percebes no amor ?
- O mais puro sentimento em sua total plenitude.

- O que  te faz sonhar ?
- Algumas lembranças.

- Para onde te leva o novo horizonte ?
- À esperãnça por dias melhores.

- O que te faz pensar e repensar ?
- A loucura que é estar aqui em meu corpo, em minha sobriedade, a paixão... Quando poderia estar simplesmente voando.

- O que queres agora, neste instante ?
- O perdão para seguir sem culpas mesmo estando ciente de que procurei dar de mim o melhor.

Corina Sátiro - 12/12/2016


terça-feira, 11 de outubro de 2016

Decências


Às vezes teu corpo e mente falam-me em códigos decifráveis
E não fecho o cerco, aquieto-me simplesmente
E ater-me agora é preciso, pois se estou a tantas luas de distância...
Sou das regras, das rimas não encontradas, sorrindo em minhas avarias

O teu amor não é maior que o meu, e também não é menor
Sempre nos vemos, nos relemos, nos buscamos num colóquio sussurrado
Em nossas vidas há muitos passos a serem dados, há muitos palmos... já não sei quantos
Mas em total lucidez decreto: nossos rumos nunca serão vazios de amor, não, isso não!

Temos muito a nos dizer, temos muito a fazer
Agora temos os lábios fechados
Temos muitos insetos na teia
Vejo-te somente em sonhos e canções
Posto que não há o que tatear no claro, deslumbro-me no escuro véu em nós

Não morreremos
E não choraremos à toa
Temos muito tempo para amar em versos comedidos
Se não podemos  alarmar nossas decências

10/10/2016

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Escolhidos

Ei, menino !
Corra enquanto há tempo.
Não te iludas com desconhecidas ideologias, podes perder tuas vestes, sangrar pelos olhos e ouvidos e ainda ter teu povo oprimido e condenado ao porvir medonho tramado pelo que desconheces.
Chame teus amigos... Fiquem atentos !

Ei, meninas !
Mantenham-se sóbrias nas lutas que virão ao anoitecer e ao amanhecer, pois sei que chorarão ao despertarem sem teus filhos e teus espaços pelos campos, pois seus "proprietários" lhes tomarão.
Estejam atentas ou serão todas marcadas pelo sangue jorrado pelo porvir.

Não enssaiem santidade, sejam decentes como Maria - a mãe.
Ou serão Evas criadas se não ouvirem suas próprias almas.
Procurem em teus "eus" e entenderão.
Estejam atentas aos livros, muitos leram mentiras e estão nas gaiolas como pássaros adestrados a cantar para os cruéis


Ei, meninos e meninas!
O que lhes falo descobri. E adiante...
Posso ser a colheita dos malditos
Ou dos benditos.

06/10/2016

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Sensações


Há um emaranhado de percepções,  de ações e sensações loucas e desprovidas de sensatez que fervem em minhas indagações aos teus ouvidos enquanto deitamo-nos sobre o acolchoado que não nos percebe, não nos ouve e nada fala a respeito. Apenas nos sentem febris.

Somos dois corpos quentes que tremem em um piso frio e o aquece ao se entregarem à festa.
Então dançamos todos os ritmos, assistidos por nossos olhares fixos e falantes.

Misturam-se nossas vozes e pensamentos as notas de uma canção inebriante ao fundo, quase que fundindo-nos. E criamos a mais bela obra de arte:
Teu riso me olhando.

Corina Sátiro - 04/10/2016

sábado, 1 de outubro de 2016

Manifestação Religiosa

Eu e as pessoas.

Cidades, estados, países...
Amores, alegrias, tristesas, "guerras frias"...

Eu, feliz e radiante por ver alguém que amo dando seus primeiros passos em busca de um sonho que se fará real dentre tantos outros e tavez este alguém nem saiba o tamanho de minha alegria  - por estar completamente distante em razão deste sonho que acabou por tornar-se meu também.

Paro para pensar em cidades e capitais que -para mim - são caminhos de todo o mundo e para todas as pessoas.
São longas as minhas "estradas e viagens".

Bem-vindos ao nosso Brasil !!!

Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul...

Meus olhares cheios de luz para a Terra...

New York,  Paris, Frankfurt, Tokio, Pequim, Ankara, Kiev, Jacarta, Moscou, Bucareste, Londres, Abu Dhabi, Varsóvia, Ankara... Não daria para citar todas como gostaria, mas uma coisa é certa:  por tudo o que sei todos somos irmãos. Isto também me deixa feliz demais, infinitamente feliz!

Também sou feliz como eremita e penso que trata-se de herança dos ancestrais...

O cosmos é inspiração para meus poemas, e os irmãos de toda a natureza e espécie;  animal, vegetal, mineral, comigo estão neste livro que abro em meu peito para todos.

Minha mente expande-se a cada dia.

01/10/2016.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Desejos


Ruídos, susssurros, vozes que façam revelações íntimas mesmo que sem nenhum sentido.
Gosto de sentir cheiros, perfumes,
Gosto de suavidade nos carinhos... suavidade (nem sempre!) os quentes também me fascinam, me dominam... Não ao morno... Às vezes prefiro o que queima, pois existe em mim também a fera que se perde em seu instinto irracional...
Gosto de risos largos, afagos - corpo e alma - sempre.
Gosto de pensamentos que viajam e buscam mãos, braços abertos, olhos;
noites intermináveis quando a vontade é de que nem amanheça só pra ficar juntinha e adormecer.
Gosto do amor que se faz a toda hora,
Bocas que bebem o gosto dos sentidos aguçados, revelados...
Gosto do teu rosto, do teu riso,
Procuro tuas mãos, me acho,
te acho.

Corina Sátiro - 29/09/2016.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Passificar


Não, às perversas batidas do meu coração frio que podem matar a esperãnça dos olhares pueris -  o que seria inaceitável à vida e preciso ao breve futuro.

Não,  à impulsividade e a segurança das metades do fruto que queimaria ao receber o frio do sudeste desnorteando o litoral.
Não, à semeadura do trigo em terras inférteis. Não!

Vivo pela passagem do vento refrescando minhas limitações até que esfarelem-se e caiam ao solo.
 Vivo do rubor nas faces, e pelo que sinto queimem em meu espírito.

Corina Sátiro - 27/09/2016.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Três


Ando atrelando ao meu lirismo contemporâneo a forte emoção conturbada
Das três irmãs,
Da regra três,
Das três horas - madrugada.
Do terceiro mês - nascimento do príncipe  esquizofrênico,

meu herdeiro sobrinho...
Com roupinhas amarelas aos três anos em uma foto antiga comendo giló e bananas com gula de gente grande.

O príncipe chorou muitas vezes e eu desesperava-me dando-lhe colo.
Menino chorão e belo, rico em expressões, às vezes palhaço rindo...
Por outras vezes rindo do palhaço imaginário.

O três - terceiro olho - sexto chakra...
As Três Marias olhando-nos a passear nos parques, a jogar bola, brincar de esconde-esconde...

O pequeno príncipe cresceu e anda a divagar... Mas na realidade, tinha três irmãos.

Três - ASS - letras iniciais de seu nome.

Te guardo em mim nesta distância, menino príncipe.
Te guardo, sempre...
Sempre guardarei.

Corina Sátiro - 26/09/2016

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Encastelados


Vamos?
Vem comigo!
O mar tá sorrindo pras gaivotas hoje, tá cheinho delas brincando, banhando-se nas águas.
Vem!
Preciso te mostrar...
Corre comigo!

Surpresa!

Com os grãos de areia ergui um castelo.
Podemos entrar nele!
Subamos as escadas e olhemos da torre.

Olhe a vista pro mar agora, os cardumes que fogem dos pescadores,
as ondas que dançam por nos perceber a admirá-las.
Daqui, você eu poderemos escrever poemas, crônicas...

Os marinheiros sorrindo no cais em sua  volta pra casa, os barcos que dançam no azul das águas... É mágico!

Ah, neste castelo plantei os sonhos que colhi na infância.
Corridas pela chuva,
Chutes nas poças d'água,
Banhos nas calhas das casas...

Ergui-o na noite em que caminhei só, observando o farol girando e brincando de colorir meus olhos sentados em um arco-íris escorregando nas cores que dele saiam.

A Terra girava comigo.
Os edifícios giravam soltando flores pelas janelas...

Vem comigo!
Vem!
Corre comigo!
E quando nos cansarmos,
Sentaremos na praia segurando os grãos de areia sem deixá-los esvairem-se entre nossos dedos.

Corina Sátiro - 22/09/2016



'


O Mal da Montanha

Subi, subi , subi...
A enorme faca motorizada viria do lado oposto para atingir uma irmã indefesa
A tontura me veio com a náusea e senti a dor em meus olhos que a tudo assistiam

Minha  vértebra curvou-se como roda gigante me levando ao chão
Enquanto a irmã araucária dobrava-se ao ser decepada

Algumas lágrimas desceram em meus olhos ao assistir a irmã degolada
Que também chorou
Amaldiçoei por milênios o ser da enorme faca motorizada que usava vestes de couro cru e botas longas

Era uma dor de morrer

A araucária e seus filhos choravam, e lágrimas desciam às pedras que as amparavam criando lagos
Meu choro era silencioso e tinha uma visão quase mórbida
As montanhas não são inóspitas! Não são, não.
São santuários!

Minha vértebra curvada tal como roda gigante me transformava em uma roda a despencar no abísmo do absoluto desrespeito de meu irmão

Então vi a irmã dormir para sempre enquanto suas sementes
Deitavam-se ás margens do rio
Precisava pegá-las!

Precisava cuidá-las...
Adormeci da dor que era a maior que já havia sentido:  impotência

Achei que teria sido tomada pelo “Mal da Montanha” - antes fosse
Voltei a amaldiçoar o ser das vestes de couro cru:  meu semelhante

E gritei:

 "Acordem nossas crianças para isto!"
" Acordem nossas crianças!"
  

22/09/2016

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Meia-Luz


Gosto do escuro e da meia-luz.
No escuro viajo pela Via Láctea e vejo outros mundos, conheço outros seres viajantes, beijo uma estrela assexuada que nasce sorridente e me oferece luz enquanto tu dormes.

Sabes que sou viajante em tantas vezes que adormeço o corpo e te aquietas para que eu vá me fortalecer nos lugares de origens desconhecidas por ti. Assim me acolhes em teu íntimo.

Mas ao voltar, na meia-luz, vejo teu corpo coberto e descubro-o. Em cada detalhe percebo um desejo vivo e audaz ao ponto de me luzir os olhos e fascinar a vista acizentada pelo pelo negrume da noite.

Tanto amo teus lábios com gosto de uvas vermelhas!

E em tua pele sinto o cheiro de pêssegos maduros que nos salienta a libido devolvendo-nos o prazer. E sob os lençois deito-me nua e a sorrir; a buscar teus olhos e o frescor de tua pele que exala cheiro de flores e calmaria.

Respiro teu hálito com gosto de mel puro a lambuzar os lábios quentes na noite fria que nos encontra.

 21/09/2016

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Omissão de Palavras Mudas


As músicas que ouço me fazem lembrar nossas poucas palavras, nossas escritas com seus diferentes estilos que permanecem em meu lugar preferido: minhas veias, que sem o sangue azul  amarelam-se como os últimos raios de sol que despedem-se apenas por uma noite voltando a brilhar nas primeiras horas que trazem o amanhecer.

O sangue

Como amazonas perdidas que não dominam seus cavalos e veem os puros-sangues galoparem quase que sem rumo em um corpo largado à distância perturbante sem ver raiar a luminosidade do mesmo sol que se fora na noite anterior e coagulam na abertura do ferimento indizível.

O querer amolado

Tento desesperadamente compor e musicar uma canção pra te ter sempre presente e não consigo por que quando dedilho as cordas ouço teu silêncio de sempre. Aquele que fez morada em ti e  contagiou-me calando-me talvez para sempre nos diferentes versos que compunha.

Porvir

E o futuro desconhecido me amarra em baixo da soleira de minha porta. Deixando-me duas taças de cristal para algum evento, mas tenho minhas mãos atadas.

Corina Sátiro - 20/09/2016

domingo, 18 de setembro de 2016

Alguém no Etério

Chove...
Uma longa capa cinza cobre-me os ombros enquanto caminho devagar.

Gosto de noites, bem como amo flores.
Gosto, seja lá como estiverem, com chuva ou estrelas.

Sinto-me fortalecida por meus passos aéreos.
Os de sempre.

De repente alguém!

Coincidência?
Percebeu meus passos solitários?
Me via estes passos quase todos os dias?

Contava os pingos da chuva?
Estaria numa mesa somente a rezar?
Estaria a me esperar?

Falamos.
Eu, pouco. Muito pouco.
Por instantes tive a sensação de não saber onde estava.

Uivos ao longe... Eram meus!

Morcegos arrastando relâmpagos...
Raios (morro de medo!). Meu único medo.

Alguém me olhava e falava sobre um romance estagnado.
Eu dizia que achava que o meu tinha começado...

Alguém estava só como eu.
Alguém tinha em mãos um livro aberto e falava também sobre achismos...
Eu acho ...

Lembrei-me de tudo o que achava.
Compreendi então, que simplesmente achava.

Paramos ali naquela adega.
Alguém falava e eu apenas ouvia.
Algumas taças, mais algumas...

Alguém que me olhava e sorria despia-se em palavras.
Alguém seria meu espelho?
Minha extensão?

Resolvi que devia explicar-lhe que precisava  voltar para casa e ler "Antologia do Êxtase" e os quarenta poemas de Walt Whitman. (Aconselhada por um amigo), e que falaríamos tudo aquilo num outro dia com ou sem chuva.

Corina Sátiro

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Duplo Laço

Me tens. E desnudo-me perante teus pensamentos permitindo a mim e a ti sonhar e sentir até onde nossas bocas nos vejam e nossos olhos nos sigam e sintam com nossos corpos e almas uma vida inteira em segundos, e em segundos uma vida inteira, pois tudo me foge a razão.

Quem disse que o amor tem razões!?

Te percebo em um sétimo sentido onde
teus gemidos, como sonoridade perfeita
,defloram meu tempo perdido para que então eu possa encontrar o êxtase que a mim permito e a ti entrego sem limites ou pudores.

Deves ter em mim uma, duas, três, quatro mulheres sem ver semelhanças  em nenhuma delas. Posso ser mil direntes mulheres se assim quiseres, mas tenhas somente a mim, pois não caberia outra nesta minha dimensão imensurável de sentimentos.

Não caberia a mim qualificar ou desqualificar nada. Somente mostrar a ti quem sou; sei quem sou. Então te  amplio delicadamente a visão e mostro a mulher que nasceu e cresceu em mim.

O amor em mim é claro, puro, fiel e tem cheiro de verdades, de respeito, de cumplicidade... Rendeu-se a ti.

E sonho, sim!
Sou uma sonhadora que em reciprocidade divide um amor com carícias, com cumplicidade e também movido por céus e terras durante o ato celebrado e dividido por amantes.
O ato único que tranforma os dois em apenas um.

Se enlaças-me, te enlaço com a delicadeza da mulher que buscastes e que encantou-se com tudo o que viu em ti.


16/08/2016

Fuga

Um animal aprisionado pode arruinar-se,  e debater-se até que lhe abram portas às trilhas

Então os parques se abrem num campo de flores a olhar o coração frágil e pulsante que suplica caminhos livres para a fuga

Em passos longos adentro a noite e sei que ela é guardiã das frágeis criaturas que sofrem uma espécie de metamorfose espiritual
Percebendo que há luzes nos céus salto no tempo a correr

Outro horizonte:

Outra trilha paralela leva-me às ruas
onde caminharei até ao amanhecer e despertarei noutra vida sem os temidos predadores

Novos horizontes me levam a viver
O nevoeiro dissipa-se aos poucos e corro de minhas ilusões a procurar a máquina do tempo para voltar a reecontrar-me em tempo real

Talvez possa voltar ao meu habitat quando a harmonia fizer morada em
meu jardim.

Em minha volta os predadores saciados já estarão a trilhar outros rumos.

16/08/2016

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Manhãs


Te vejo dormindo e te afago sem que percebas deixando minhas mãos deslizarem sobre as tuas aquecendo-as como sempre fiz todas as noites.

Me deito ao teu lado e me aconchego devagar para que não acordes.
E com o zelo e o amor que te tenho vou buscando o teu corpo enquanto dormes
para o aconchego ao meu.

Com um abraço delicado te envolvo para que possas sentir-me sem despertar.
Apenas revira-te na cama voltando teu rosto para os meus olhos que observam tua respiração leve, calma... Como as ondas do mar que te escrevi numa noite qualquer.

Te deixo um apanhado de sonhos que roubei das madrugadas e de nossos passeios noturnos penetrar os poros. Percebo com encantamento teus risos em sonhos.

Teu coração bate bem devagar.
Te liberto da insônia que te abate.

E quando amanhece saio sem deixar bater a porta esperando o dia do encontro onde nossas almas e corpos dêem forma a sede e a fome dos lobos adormecidos.

 16/09/2016

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Dama de Louça

Hoje fui triste.
Não sei a que horas por que estava rindo e dispersa.
Feroz na voz, enjaulada em ruas sem fim, caçada...
Não fui vencida e não sou anjo, voo e não tenho limites, o infinito é minha casa mais próxima.  
Com voz estridente gritei para que abrisses os olhos e me ouvisse,
E tentei dizer que não é bom ficar assim, somos a canoa que virou.
Verdade, virou numa queda sem nenhuma gota D`água.
A Verdade sobre ti, não sei.
Fui vencida.
Não te quero mais,
Não sou domesticável como pensas, submissa ou não, sou a dama que se quebra.
Não tem solução, as verdades doem.
Não fui banida... Por que não fui? Não sou heroína. Sou alma.
Sou a dama que viaja no trem para os confins, no fim.
Hoje não me gosto, mesmo que rindo e dançando,
Hoje estou cruel, num dia de adivinhações,
Ferindo meus próprios olhos..
Qual é a mágica que me traz pureza e risos a estas horas?
Qual é o risco de não viver sorrindo?
Não tenho medo de chorar.
Nunca tive.
Não quero! Não quero!
Chega de falar com olhos que nunca me viram,
Com bocas que não me falam.
Fecho os olhos.  Fecho a porta.
Fui perdida, fui vencida.

Corina Sátiro – 12/09/2016

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Busca


Se hoje prefiro estar só, por que abordas-me sobre o que faço e o que quero, ou como estou e onde vou em minha quietude?
Renasci nas horas que se passaram naqueles meses, no ano que findou  lentamente e que já não existe em meu tempo. Meu calendário rasgou-se na solidão imposta que escolhi para mim.
Assexuei-me por um tempo... Assim quis, por mim. Apenas por mim. Portanto, não irei a leilão e não estou nas esquinas. Nunca estive, como bem sabes.  Sou a minha própria mão a buscar-me devagar e gentilmente para o novo.
O que pensas que ainda tens de minhas dores que se foram junto ao cançaço de observar-te sempre irredutível?
 Já não me são incompreensíveis tuas ações irracionais.
Se queres o meu amor, sim, tens. Não o que nos trazia urgência e nos fazia livres durante o prelúdio da nudez.
Se o queres,  transforma-o em luz que prepara teus caminhos ilusórios, em flores azuis, ou naquelas estrelas que costumávamos observar da varanda nas noites enluaradas.
Quantas vezes preciso dizer-te que o amor nunca morre? Vive para sempre. Apenas transforma-se.
Em nosso caso trouxe-me o silêncio e a tranqulidade. Foi transformado em distância e posteriormente será risos.
Acho que tu não viu meus medos, meus calafrios na madrugada, tampouco ouviu meu silêncio que te pedia simplesmente paz, pois era o que eu precisava.
Preparou-me a comida e a frieza de meus olhos ao deixar-te ir.

Lembre-se do o amor trasmutado. Não morto, mas das mudanças que a vida a ele impôs.

Corina Sátiro - 13/09/2016

"A Casa Do Fim Da Rua"

Tento entender o que vejo em fotos que podem ter sido recentemente tiradas ou há milênios desenhadas...
Lembrando-os que meus olhos podem confundir as visões que tenho,
pois a miopia me põe a usar óculos ou lentes

Meus olhos não percebem bem muitas cores e não enxergam somente dores
Apenas veem coisas sombreadas ou iluminadas, tais imagens me parecem estradas sinuosas.
Uma tintura ou um grafite mostram um rabisco na vida de alguns, num momento de alegria ou de tristeza.., Outros me mostram a paz evidente em algumas cores que os tomam

Com sorrisos mortos ou vivos eu os vejo em seus amores perdidos ou encontrados; ou em suas alegrias numa grande euforia que confundem-me
Surpreendo-me ao não ver meu sexo, e penso que nunca o tive, mas sou uma mulher.
 
Teriam desenhado também minhas tantas vidas, faltando-me apenas a chegada a este recinto desconhecido onde não sou nada?
Por que estou aqui?
Lembro-me de ter chorado ao descobrir tais coisas ocultas aos meus olhos adolescentes

Quando adentro tais quadros o tempo está parado para os que lá "vivem".
Alguns têm olhos mortos, outros os têm ainda vivos, e muitos estão numa sobrevida.

Posso vê-los

Suas mãos não acenam e seus braços não abraçam mais, apenas buscam e precisam de outros braços que os levem a saída... Onde está a saída?
Sinto emoções diversas e inenarráveis
São muitas salas e jardins, nem sempre sei o que fazer...

Eles estão ali em minha mente?

Moldo-me à luz e sinto a leveza do ar nos tais quadros luxuosos e brilhantes
Observo o cristal que se sobrepõe ao espelho que reflete a luz que vem do porão que vasculhei à procura de explicações.

Devo esclarecer que não sofro de esquisofrenia.
Talvez esteja aos pés de meus rumos ou missão...
Acordo a pensar e sinto a leveza nos recintos onde caibo


12/09/2001

sábado, 10 de setembro de 2016

Monte do Sino

Precisei ir ao monte e lá acho que encontrei as respostas para minhas tantas perguntas.
Quantas coisas perdemos. Deslizaram de  nossas mãos.
Tive dó de nós.
Se estivesses aqui poderia ver a cidade lá em baixo toda iluminada.
A vista daqui traz as estrelas para bem perto, posso senti-las queimar-me.
Uma luz muito intensa percorre meu corpo fazendo-o tremer. Minha mente expande-se agora.
Gosto de estar por aqui -  onde encontro meus pirilampos.
Nos jardins deste lugar não existem flores... Mas tudo bem. Tudo está bem agora.
Há um canto de uma mulher que parece estar mais viva que ontem nesta madrugada.
Ri de seus risos.
Cheia de luzez que arrastam-se às barras de seu vestido branco.
Não sei quem é ela...
Esqueçamos
Hoje é o dia em que espero ter pés para subir mais e mais
até chegar ao abrigo iluminado.
Agora estamos aqui dentro de nós.
Não chore.
Ouça a mulher que canta harmoniosamente para o infinito.
Ela vai ao céu e volta ao mundo.
Volta. Sempre volta.

Corina Sátiro - 10/09/2016

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Mar Negro

Sei que descuidei-me ao deixar o veleiro à deriva enquanto dormia profundamente em meu cansaço navegado em meses sucessivos.

Agora acordo e sigo pelo mar aberto tentando enchergar a tempestade que veste a negritude da noite abraçando o luar.

Perdemos o azul do mar nos teus raios lunáticos. Agora choro e rio do medo que me toma.

Por que te aproximas destas águas profundas? Sabes que quando te aproximas demais erras trazendo o caos.

Provocas a ira das grandes e imponentes ondas do grande lago terráqueo
que não pode com tua proximidade.

E o medo sentido lhe traz as espadas dos guerreiros das cidades perdidas nas profundezas das águas sem sua mansidão.

Abaixo das águas estão as almas desconhecidas por nós: os guerreiros de navios nalfragados nas tuas idas e vindas.

Queria eu estar dançando um bolero na ilha encantada onde vive a irmandade que procuro.

Giro em meio a tempestade, tenho as pernas banbas e canto na dança dos raios que não me atingem mais.

Assim , dentro do medo, esperarei a calmaria e o amanhecer ensolarado.

Minha ilha me espera. E lá deixarei meus restos mortais sob as areias brancas e virgens.

Corina Sátiro - 09/09/2016

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Amor


Sei onde fica o amor. E olhem que é difícil entender quando aparece em lugares que julgamos improváveis.
O amor fica na gente quando somos GENTE.
O amor é imortal. Trascende...
Multiplica-se, triplica-se...
Nasce em todos os lugares limpos, é majestoso, é frágil, é forte e poderoso. Cura. O amor cura!
Vindo de uma semente, amadurece aos poucos e transforma-se em fruto, e quando experimentado deixa o sabor perpetuado.
Amor é paz.
Amor é sempre, sempre, sempre...
Há quem o confunda com paixão,
Mas o amor também tem uma paixão que o acompanha e  às vezes fica pelo longo caminho. O seu trajeto tem estradas sinuosas, entroncamentos...
É preciso atenção.
O amor é fusão de almas.
O amor não mata, ressuscita.
O amor é vida.

Corina Sátiro - 08/09/2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Respingos

Chove, e esta sinfonia que ouço em tão bela harmonia
bate no telhado cheio de folhas secas
e desce pelas calhas tombando nas ruas sujas.
Sons perfeitos juntam-se ao bater de asas dos pássaros em revoada a procura de abrigo.
Isto ecoa dentro do meu peito e foge pelos meus olhos,
saindo pelas janelas, atravessando as ruas vazias
e resvalando na escuridão.
Os sons, os tons e a névoa, brilhantemente enchem de beleza
a palidez das luzes artificiais na cidade que dorme.
Parece um sono profundo
visto da janela do meu mundo.
E os pingos respingam em meus delírios.
Em meus sonhos desce teu corpo
que estreita-se em meu colo e, como toda a cidade, dorme.
Mas os teus sonhos são teus - lindos como a primavera.
E os meus sonhos continuam dentro dos meus olhos
confundindo as batidas dos  nossos corações.

 Corina Sátiro – 07/07/2016

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Morfeu


Deus da noite e da paz que adormece-nos
Me atraia ao R.E.M na morte temporária
E na saída dos labirintos da noite em tua grande paz
Dignifique minha mortalidade em tua sombra

Antes do amanhecer solte-me na brisa mais leve
Que possa existir junto as borboletas,
Pois com elas partirei sobre as flores
E descobrirei novos mundos

Imploro-te para que ao libertar-me à luz do dia
Leve-me sempre às asas da razão
Sem o entorpecimento mental dos irmãos mortais,
Leve-me n`uma viagem alegre

Leve-me onde eu possa cantar o lírico em teus braços
Observando o nascer da estrela maior bem devagar
Leve-me contigo ao teu mundo encantado
Onde o sol é desnecessário a vida,


Onde a noite dure apenas o seu tempo
Onde os dias me permitam cavalgar
Em unicórnios aladados na velocidade da luz
Às viagens para os casebres nos sonhos coloridos de onde vim.

Despropósito (?)

Onde me achas a cada dia!?
Nas cidades e ruas que escolhestes para eu caminhar só ao calar-te na tua incerteza da fome e da sede que sabias que desvaneciam também a mim, a tua febre de presença foi a mesma que senti durante tua ausência tão doída em mim envolvendo-me o corpo e a alma numa solidão sem precedentes a levar-me ao mar e banhar-me ao sal das marés lembrando lágrimas soltas por mim em tua pele clara e macia ao tocar teu rosto.

Em todas as ruas e cidades vi teu riso e te senti. Despi-me de meus medos para doar-me a um amor que via nascer iluminado.

Ando do lado de dentro de uma porta fechada por ti, onde o desejo é mais forte que eu. Ao cançar-me durmo sobre as tantas palavras que diziamos e sobre os beijos jogados ao chão com os versos que não me vem sem ti. Estática me vejo a olhar minhas mãos que se cruzam ao lembrar das tuas naquelas noites em que precisávamos do amor que nascia calmamente em nós.

Viestes guardando os segredos e os tantos sentimentos fechados em teu peito a transpassar minha pele morna, privando-me do calor do toque de tuas mãos tão minhas.

Quantas vezes nos demos as mãos na madrugada fria ?
Não tenho medo do que sinto após abrir-me para sua urgência de vida que também é minha.

Sem esquecer-te mergulho nos lençóis contando as horas de te ver sem medo e dando a mim o crédito de mostrar-me sua sem a necessidade de entendermos o que amamos em nós, por que só pode ser de uma imensa grandeza.

Quero cuidar de ti.
Quero-te mais que qualquer coisa que todos os deuses possam oferecer-me

Espere-me. Vou encontrar-te.

Corina Sátiro - 05/09/2016

domingo, 4 de setembro de 2016

Somente Um Querer

Quero os olhos teus a dar vida as minhas  noites insones, quero os sons noturnos aquietados no nosso encontro calmo e preciso;  amadurecido, repleto e completo de poemas vivos, ricos e sem censura.

Quero ao amanhecer deitar contigo nas folhas secas que caem do arvoredo da brilhante e estonteante natureza morta,

Quero tuas mãos em minhas mãos a trocar o tatear e os sonhos pelo abraço sem o insensato medo de amar com todos os quereres, sem limites ou regras.

Quero a energia que sacia a alma e o corpo, o que caiba em mim e em ti sem deixar arestas ou lacunas.

Quero o amor que possa subtituir a beleza do canto dos pássaros que acomodam-se ao ouvir teus passos na chegada.

Quero o amor teu e meu a juntar-se  numa silhueta única que possa esconder a luz fria da manhã deveras pálida da poeira versificada nas linhas do meu velho caderno rasgado e esquecido sobre a mesa,

Quero-te num susssurro límpido aos meus ouvidos surdos de tua ausência.
Quero os lábios que  trazem os beijos que foram guardados

E te ofereço os que guardei com a certeza de serem teus
Quero o teu riso nos meus olhos amanhecidos do puro amor que celebra o mais caro sentimento

Quero o renascimento das horas perdidas nos olhos onde peregrinei e o quase silencioso amor que é teu a plainar sobre a certeza que verás nos olhos meus

É somente um querer

 03/09/2016

Rancho


Eu planto ideias nos relatórios, assim é necessário por minha água e meu pão.

Ah, mas amo mesmo é meu rancho que sequer tem nome.
Não tem luzes nos postes da estradinha de barro onde caminho.

Amo o verdadeiro "bom dia!" do senhorzinho que levanta às três horas para a colheita de legumes e verduras para que sejam enviados à capital,

O romantismo dos violeiros nas praças...

Já plantei idéias de fazer planos.

Agora quero ouvir o vendedor de pães passar vagarosamente em sua bicicleta de casa em casa oferecendo pães quentinhos.

Quero o café fresco.

Em razão da nítida vista dos astros iluminando o céu à noite planejei um nome para o rancho:
"Vale da Lua"...Vale do Luar... Mas já deixei este plano pra lá.

Melhor não ter nome.

O dia ensolarado é o palco num teatro em relembranças da meninice:

Saltar das pedras nas águas dos rios,
gritar bem alto e sileciar em seguida para ouvir minha voz ecoar nas montanhas,

Deitar-me na grama verde e brincar de achar animais nas nuvens estampando e refletindo a natureza no cristalino dos meus olhos.

Expandir meus sonhos,

Ganhar os céus misturando-me as brancas nuvens e aos pássaros migrando para o sul,

Voltar no vento da primavera para olhar as flores que cultivei em junho...

Só.

Corina Sátiro - 02/08/2016.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Subentendido


O carro de fogo quebrou, a estrada estreitou-se no final da vida
O abismo olhou com profundidade
A velocidade de meus pensamentos atônitos

É tardio o meu amanhecer folclórico,
E desmerecido o seu caminhar apático intimidado pelo sentimento desfalecido.

Rumo ao fim da longínqua avenida
Deparando-me com os deuses aflitos
Ao perceber minha psique

Me tomam nos braços e abrandam meu espírito soltando-me ao vento
Agora sou a águia que aguarda o pássaro gigante que ao cantar silencia o mundo

Escastelo-me para não ver e sentir o tempo presente.

Lembrando-me sempre que para tudo há perdão.

Corina Sátiro - 02/08/2016

Sinfonia da Chuva

E o vento nos coqueirais buscarão em nosso nome um raio que acenda o entardecer revelando a fotografia dos teus olhos cheios de mistérios, cílios esvoaçantes e gotas de sal descendo à face tentando confundir inconscientemente minhas indagações.

É notória a impaciência em nossos passos desencaminhando a pressa venosa da insistência que nos abate

Haverá chuva, sim; terá que haver,
Pois não teria a mesma beleza um passeio sob o sol a pino.

Sem as vestes encharcadas da energia que a chuva traz.

Todos se esconderão em seus lares amedrontados com os trovões.  Nós não.

Pois as taças de cristal guardei para o brinde com a doce água da chuva , sem pactos mentirosos, sem juramentos, sem julgamentos. Nada mais... Temos a verdade e assim caminharemos sempre.

Desde bem antes de tua chegada resguardei-me, e mesmo com todo o frio que senti no gelado inverno tive o corpo intocável - diferente da personagem que criei -, fui apenas menina, quase criança precisando de afago.

Foi simplesmente respeito a mulher em mim, pois o amor é limpo e lavado.
Assim será, com gotas de chuva onde dançaremos, onde correremos a bricar.

Pensando bem, a chuva é bem capaz de nos recepcionar com a sinfonia de seus pingos.


 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Vozes

Ouvidos que angustiados ouvem as buzinas nas ruas e me fazem correr dos dias em que não me enquadro.

Rogo. Rogo aos espelhos da casa que mostrem a mim uma alegria ao acordar

Estou queimando e as feridas a deriva me doem o coração que arranco pela boca  de uma só vez

Para que tê-lo se as batidas me incomodam?

Posso ouvi-las bem alto com sua sofreguidão

Minha mão não cabe em minha garganta apertada de medo

Mas teria que arrancá-lo antes de morrer

E fora feito o parto a Fórceps de um coração que me trazia todos os outros corações que guardara com zelo quando esticava o físico da infância a adolescência e por fim na idade das pessoas adultas já que a criança permaneceria em mim para sempre.

Encontro-a pela casa e jardim quase sempre a brincar com as bonecas de pano que foram guardadas no sótão, ou a suspirar numa brincadeira das três marias balbuciando palavras aos amigos imaginários

Esta menina é feliz, mas foge-me quando a mulher solitária e serena volta.

 

Corina Sátiro – 23/08/2016

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Sentimentos Omissos


Lindo e inexplicável, foge a razão e não há o que questionar
Amar o tudo sem nada ter
Amar com ou sem razão
pois não existe a lógica e o princípio ou o fim

Há sorrisos

Nada há de palpável nessa chama que vem acalorar as horas de frio
Há somente a certeza do que passou
Deixando pétalas ao vento
Que anuncia com um lindo alvorecer os dias que parecem não ter fim

Passou

Passou despercebido e sequer deixou rastros
Ao que percebe-se na brisa leve que vem como perfume que torna-se prelúdio do óbvio

Não trata-se de nenhuma história de cinderela

Amar o que nos envolve plenamente sem a posse do ser
Sem a entrega e o toque suave das mãos
Ou a loucura insana causando aquele friozinho que acontece numa simples troca de olhares

Entrega-se

Uma alma presente nos dias ensolarados ou nublados
Nas noites enluaradas ou banhadas pelo breu bonito
Ainda, em dias chuvosos
Como alimento do espírito no brilho da vida em sua plenitude

29/08/2016

domingo, 28 de agosto de 2016

O Que Tenho


Tenho sempre essa saudade não sei do quê...

Talvez de meus livros perdidos nas mudanças, ou de outros universos

Com mares azuis e libélulas gigantes

Eu, pequena, vejo o intrínseco nos olhos grandes da saudade escondida

Tenho sempre essa saudade que não sei de onde vem

Saudade que sabe de mim sem permitir-me sabê-la

Há rumores de que ninguém sabe!

Percebo-a em mim tão discreta como se tivesse a tentar esconder-se

Mas eu a vejo e a sinto

Saudade que fala, que embala, saudade de tão poucos risos

Saudade de uma lágrima que não permitiu-se rolar e umedecer a face

Tenho sempre essa saudade que me revela sentimentos confusos e ponho a estudar-me:

O que tenho no peito guardado?

O que tenho das pessoas?

O que tenho dos sonhos ?

O que meus olhos não alcançam ?

O que partiu de mim?

Tenho essa saudade estranha de não saber da saudade que tenho

27/08/2016

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Vidas Mortas

É chegada a hora de acordar.
Olhos abertos e investigativos resvalam no teto de madeira em cor castanha

Onde estou?
Onde estive ?

Vivi cativa no quarto cinzento e nublado com a névoa que sempre chega mansamente,

E soma nossas vidas dançando  na fumaça que vem do cinzeiro enquanto nossos pensamentos sacodem a vidraça e têm o brilho pálido do adeus.

Falo a mim nas horas seguintes que
Se os anéis já estão a rolar no fundo do rio sem terem sido moldados em prata posso entender o fim

Do caminho
Do que seria
De tudo
Do que morre
Morre vagarosamente

Estou muda e meu ollhos mostram ao meu momento uma alegria quase triste que por um fio se salva de uma morte em vida.

25/08/2016




terça-feira, 23 de agosto de 2016

Amigo

Arranje um amigo "vagabundo" que dívida o último cigarro com você enquanto dão risadas de si mesmos sem contarem nenhuma piada e que nem sabe do que riem.

Que divida o único cigarro por quê  o maço esvaziou e esqueceram de comprar outros,

Que dívida os cobertores no cantinho da sala de estar durante a embriagues de ambos sem sentir o cheiro do seu corpo enquanto dormem abraçadinhos,

Que diz que você está linda quando você tomou chuva pela

 cara na saída da boate na madrugada, sua maquiagem borrou e você em nada lembra aquela linda mulher que combinou sairem juntos, pois na verdade está horrível e bêbada.

Arranje um amigo.

Que te seque as lágrimas e te leve pro chuveiro nua enssaboando-a com jeitinho e sem se lembrar que você é uma fêmea de sua espécie,

Arranje um amigo que mal saiba que papel desempenha com relação ao seu grau etílico nessas horas. Que seja simplesmente o que é;

Que te peque no colo pra te levar pra  dormir por que o banho te relachou, você mal consegue andar, mas ainda ouve sua voz suave dizendo:  " Amanhã você ficará bem."

Corina Sátiro - 20/03/1977

Dé jà vu


Não me reconheço nestas imagens fotografadas, nelas esbarro sem nenhum equilíbrio.
O que vejo em minhas lembranças?
O que fizeram com minhas memórias?

Penso, penso... Olho as quatro paredes de meu quarto e é espantoso não saber onde estou.

Aí, minha cabeça entulhada de pensamentos confusos !
Não sei onde me querem levar.
Por que o passado aparece em flash?

Inventaram tudo.
Criaram os templos e arrastaram multidões.
Quero sair daqui e trilhar meu próprio caminho em paz

Na inquisição queimaram bruxas e bruxos,
Queimaram aqueles que tratavam de nos encaminhar, de nos  mostrar a direção.

Ainda estão aqui. Agora dissimulados.
Meus irmãos já não são meus irmãos.
Partiram em viagem nos grandes vagões da salvação.

Irei eu pelas ruas desertas porque sou dona de mim!
Sou parte do Criador.
Minúscula parte que vê todos os sóis,
Irmãos da mesma galáxia.

Sou singular
Lutarei até a morte
Me encaminho sem as leis que criaram,
Sem as rédea que há muito me tiravam o sono.

Se me seguem, matem-me!
Não tenho medo se lêem meus versos.
Se há um compromisso com a realidade, este farei valer se não me decaptarem ao amanhecer.

E se me calam, minhas palavras viverão.

Corina Sátiro - 20/10/2005

Meu Frio

Não consigo
Não consigo escrever o que anseio
E na espera do entendimento do que vivo vou seguindo pelas páginas roubando meu próprio silêncio

Sufoquei a voz na falta de palavras
Não quero atender ao meu povo,
Prefiro o breu de minhas cavernas onde sinto-me segura

Sem frio, sem medo, sem vozes que machucam, sem a luz que dói em meus olhos... Agora sigo.

Estes meus olhos,  mesmo fechados, observam a negritude do dia escondido atrás das cortinas que fecho

Talvez vocês não entendam o meu eu lírico
Porque há uma distância nos versos sem rima, e também deixei de interessar-me por coisas que "determinam" o que devemos criar. Criarei o que quiser. Nada mais. Me apego ao modernismo, e só.

Não admiro o que faço, apenas faço.
E também não ligo mais para as opiniões por não me importar com as críticas que acrescentam ou não algo novo.

Sinto por isso. Não me julguem. É sábio não julgar. Interem-se da lógica ao assuntar o que desconhecem.

Sigo assim, ainda me importo (?) por mim e interesso-me apenas pelo que acho que devo trazer às mãos

Fiquei em paz ao despedir-me das luzes de um olhar , senti-me livre de mim mesma ao esquecer o passado

Estou no silêncio da profundidade dos rios e ouço o burburinho das águas que mexem o leito borbulhando paz.

Corina Sátiro - 22/08/2016

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Relembranças

Enquanto dormes olho-te como criança medrosa
Que cresce como brotos de rosas onde pousam abelhas negras,
E vou relembrando tudo de nós.

Tais fatos enriquecem-me a alma a tal ponto... E por que isto de ficar tendo
Indescritíveis sensações vividas ou não vividas?
Por ora é o que posso descrever, assim, peço-lhes desculpas.

Bem sei que no fundo há um medo crescente de tudo o que nasce de repente
E nesse ano, ainda viveremos por nós todas as sílabas dos verbos que entoamos
Naquela noite com cheiro de amor, com cheiro flor, com perspectivas...

Brotas todos os dias em mim.
Mal sabemos que brotamos sem perceber.
E o que mais me importa é o fato de estar aqui crescendo e saber que vivemos. 

Corina Sátiro – 18/08/2016

sábado, 6 de agosto de 2016

Ontem

Minha auto-homenagem ao entardecer prende-se ao fato de ter estado
Contigo.
Rio, canto, danço... Pinto os lábios, solto os cabelos e viajo em ti sem Rumo algum
Reflito sobre o teu jeito de me olhar e abraçar, parecendo um peixe
Serpentiforme e escorregadio...
 
Meus ouvidos te ouvem como música que sai de uma flauta verde e Doce, respectivamente de um estúdio e pelas ruas da cidade onde todos Caminham para a luz
 
O que tens nos olhos que tanto me desorienta?
Me flameja a alma onde labaredas gigantes aquecem as vidraças frias
Deste inverno louco?
 
Não; não há necessidade de respostas, pois sei que tu também não Haverias de saber.
Senti teus sonhos nascendo ao alvorecer (lembra-te?),
Senti tua beleza, não tão somente nos olhos, e sim,  nas palavras que Saiam da tua boca e me contornavam a cabeça - também como música
 
Saíamos daqui desta Terra e nos encontrávamos num céu iluminado Banhando a cidade inteira de luz... Éramos tão livres do Mundo.
Viagens incontáveis fazíamos em nós
 
Tão bela quanto tuas mãos brancas que moviam-se entre os cachos Loiros do sol em meus sonhos era a vida que tínhamos:
Bela! Bela! Bela!
 
Ainda ontem, viajando sobre as linhas do trem, pude rever as paredes
Dos prédios, as crianças nas calçadas... Enquanto meus olhos Permaneciam atrelados as horas em que te senti em total plenitude 
 
Percebi então a necessidade de estar sempre em teu colo, de ter tuas mãos ao alcance das minhas, de estar em teus sonhos
E aquele cheiro de café pela manhã ainda anda impregnando minhas narinas
Por que existe a distância entre nós?
Por que não nos desmaterializamos  para nos achar sorrindo dentro das veias de quem amamos? 
    
05/11/2006
 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Talvez

E agora?

Procuro o céu e não o encontro lá fora.
Por vezes acho que não foi o céu quem sumiu...
Talvez tenha caído, como caem os anjos rebeldes;

Por vezes estou apenas só e meu espírito foge por aí como um desertor com a imponente cara de brisa leve que reaparece somente pela manhã a brincar nos giros dos furacões.

Tão deserta quanto o mundo apocalíptico, tenho o corpo coberto pelo fogo, pelas chamas que gritam em meu silêncio irrequieto.

Somos caminhos cobertos pelas areias das dunas quentes a suplicar:
Oh, estrelas cadentes, não resfriem este mar!
Nem queimem as areias da praia deserta ou das dunas brancas onde caminho presa às ilusões que crio e recrio a cada dia, mês, ano, minutos...

Perversas e infinitamente lindas são as estrelas cadentes que nos fazem percorrer seus trajetos alucinantes mesmo quando não há céu a ampará-las.
Perversidades tão mansas e sutilmente queridas por minha pele-oca de onde caem meus sonhos amedrontados e inquietantes.

E somente dormirão meus olhos quando assistirem ao eclipse total do anoitecido e o amanhecido em mim.
 

Corina Sátiro – 24/07/2016

sábado, 16 de julho de 2016

Planícies

Estava olhando as montanhas e vi teus olhos  em lágrimas desabarem com a fria chuva.

Revirei meus sonhos e vi a montanha em silêncio chorar lágrimas de verões verdes como teus olhos...

De joelhos ao chão fiz a última abordagem ao clarão dos olhos da tarde em despedida ao vale:
Por que tudo se vai? Respondá-me! 

E repetidas vezes pedi:

Não, não despeça-te de meus verões e nem me deixe aqui na chuva fria...


Não, não despeça-te das montanhas altas e refrescantes para os deslumbres das planícies sólidas e secas onde os romances morrem sem sequer terem sido vividos.


Oh, criança, nada posso ver além da chuva que cai agora marejando meus olhos!

Oh, criança, talvez este cobertor escuro que a tarde estendeu aqueça-nos a alma, então...


Então, esqueça-te das planícies e volte a dormir.

Pare de andar de um vento ao outro. 
Agora a chuva já caiu, já afastou-se;  estou aqui.


Não, não despeça-te das montanhas altas para viver o calor das planícies! Adoeceria-nos !

Pense. 

Vi teus olhos marejados da chuva fria e pude secá-los quando já havia frescor nas montanhas.


Lembra-te dos rios onde nadavamos na falta do mar? Na montanha não há mar. 
Por que não há mar? Pergunto-me sempre.

Nossos rios...

Lá estão eles com suas águas mornas, porque o sol ao cair,  lá fez moradia.

Então, esqueça-te das estradass e das planícies e voltemos aos rios a nadar onde mora o sol.


Não, não despeça-te de meus olhos marejados de medo!
Serei o nada a morrer na chuva,


uma alma alma perdida a dançar na fria solidão das montanhas sem luz.


Sempre é tempo de viver! 
Não morrerei nunca!
Jamais, mesmo durante as tempestades com neve caindo aqui...


Não, não me deixe aqui sozinha na chuva fria sem teus verões de olhos de pura luz,

porque posso partir sem ti e virar "coisa "sem alma.

Alma  que estará sempre a caminhar sob o nada.u

 20 /11/2015.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Andanças

Se eu soubesse por onde ando não me sentaria na beira
da estrada mirando o horizonte a procura do sol
Se eu soubesse olhar o que olha...
Se eu soubesse que meu coração está demasiadamente vivo
poderia tocar o céu com as pontas dos dedos
e não me surpreenderia com o grito do povo da terra que canta comigo
Quando sopramos lavas fumegantes sobre minha
alma nua e perdida
Avessa e descrente estaria eu de tantos olhares que me atiram versos mudos todos os dias?
Questionarias o olhar do infinito tanto quanto eu ?
Chorei na véspera do ensaio com o lume dos olhos anoitecidos a beira mar de onde também correríamos a desvendar mistérios...
Mistérios derramados na areia e no impalpável
que permeiam-me os dias atuais
De quem são os olhos que te guiam agora pelas estradas
onde caminho tentando me encontrar sem medo ?
Diga-me há quanto tempo segues por estradas que desconheces ?
Por que nos vemos admirando o mesmo horizonte
que nos parece tão próximo desta estrada que cruzamos ?
Me dê suas mãos para que possamos alcançar o céu e tocá-lo
com as pontas dos dedos.


 05/07/2016