sexta-feira, 10 de julho de 2015

Canto Sem Cor

Morte era a minha face quando me faltavas a qualquer hora,
E meus passos plantavam dores pelos latifúndios
Quando teus olhos já não eram minhas luas.
Em que terras pisavas que não percebestes que nevava aqui dentro?
Em que terras pisavas que não percebestes que eu tinha pesadelos?
Pernas moribundas me moveram a esmo. 
Eu que já morria de medo dos olhos meus sem o brilho dos teus... Eram luares!
Onde estavas que nem me viu chorar?
Não há mais esperança de futuro em nós.
Nunca a vimos e nem a veremos.
Veja detrás dos arbustos que se movem mansamente agora:
Nossos dias eram mentirosos, nunca existiram!
Mova-se para que eu possa te ver.
Janta comigo os restos de ontem
E as sobras da manhã que me levou
Enquanto dormia vulnerável.
Olha em meus olhos!
Em minha gaveta está guardada
A  inútil  presença sem graça da nostalgia
Que arrepia-me e traz de volta os medos
De um tempo em que dormia em teu colo
E ouvia de olhos semi
abertos tua voz emudecida
Aguardando a primavera com um sol obeso a flutuar no azul celeste.
Antes do meu sono ainda podia ver, não claramente
Uma luz amarela de estafa
Cozida em milhões de minutos vazios e apodrecidos.
Onde é que estamos agora?
Não responda.
Já não existem os porquês.
Fique aí pensando em que ano estamos.

Corina Sátiro
24 de abril de 2005

Nenhum comentário:

Postar um comentário