sábado, 18 de junho de 2016

Medo


Os rios transbordam meus medos na primeira queda d` água,

E as luas que me veem

Dragam meus sonhos engolindo-me a vértebra, fazendo doer os nervos.

Minha solidão é fruto de minha imaginação fertilizada por tua imagem

Notória e veloz, muda como as ruas

Onde caminho só sob o céu em total abandono.

Há um monólogo onde falo dos temores que habitam minha alma.

Abro meus olhos e me pergunto: sabes onde estás?

Mas que melancolia e essa que chega com as lembranças?

Penso também que posso saber mais sobre a diversidade dos caminhos...

Não quero saber sobre os teus caminhos.

Pergunto-me quais seriam os meus e me basta.

Por quanto tempo ilusoriamente ainda trarei às lembranças

Os teus olhos observando as barcas que atravessam o mar?

Ou ainda, as tuas mãos brancas deslizando sobre uma folha de papel

Deixando-me um poema pela manhã

 

Corina Sátiro – 05/03/2000

terça-feira, 14 de junho de 2016

Incertos


Todas as incertezas te cabem mal
E não é pertinente perguntas sobre isto

Não há o que refletir, proteção tens sobre minha instabilidade de humor


Não há mais noite e nem dia
Não há calor
O frio é perceptivo e doído


É visto como espada que corta sem piedade dedos e ossos de uma carcaça insana
Quando foi tua última noite dormida?
Quando foi teu último beijo na face do irmão desta enfadonha dor?


Não me fale do medo que tens... 

Sabes o que é arrepiar-se de pavor ao ver o dia raiar ou a noite que cai?  Não; não sabes.
Quem sabe?! Ninguém


Nada mais tenho, o que tinha já doei
Em nada posso crer agora.
Então, deixe-me arder na febre a mim imposta


Deixe-me só com minhas perguntas tolas, porque cabe somente a mim ver a poesia nesta lamúria infinda
Cá está o amor que não é perceptivo,
Cá está a profundeza do globo onde caem meus olhos deixando as pálpebras fechadas e para trás

Saía e apague as luzes
Enxergo minha solidão na impaciência que me corrói sem esperar nada do tudo e o tudo do nada


Não me queira mal neste momento
Não me toque
Despreze-me, é simples

Não finjas nada

Desnecessário é o teu ficar comigo
Há sempre um desenlace compreendido por mim, pois meus caminhos são tortuosos e ferem

É quase hora da morte dos sonhos
Não fique sem rumo quando eu desistir de beber da água retirada do lago onde mergulhas.
Não te entristeças


Veja-me apenas como uma das estrelas que se apagam no firmamento.
As outras lá permanecerão a brilhar para o mundo em em teus olhos.

Corina Sátiro - 08/07/2016

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ilusionários

Estico-lhe os pulsos, mas não me prenda! 

Faça valer o que é justo
Não me encarcere
Sou bicho solto, a embrenhar-me nas matas, a fugir dos amores aflitos
posto que sou inocente e nada mais

Saio agora e deixo todas as luzes acesas para que vejas o mundo a passear nos teus olhos sem mim.
Estico-lhe os pulsos, e se quiseres me cuspa na cara, mas não me prenda...

Não me encarcere!
Sou inocente tanto o quanto o teu espreguiçamento
Ao acordar para um novo dia ou noite
Viva intensamente e deixe-me ir

Sou bicho solto, de embrenhar-me nas matas sem tormentas, onde tudo é silêncio e paz
Não me sacie, pois posso entrar na vulnerabilidade humana
Sou composta de silêncios e verdades

Sou apenas o frágil bicho solto e selvagem, nada mais
Estou desarmada e cheiro a flores d'onde vim... Vivo de amores lúcidos 
Não vou te subornar com um olhar tristonho
ao te mirar e virar-me à fuga - seu tudo -, não devo ser...

Estico-lhe os pulsos, mas não me prenda! Óh, não...
Não me encarceres em tua inefável singularidade!
Entenda que meus sentidos aguçados não me falham, posso tudo sentir e ver

Posso tudo compreender, mas não posso esquecer tudo...
Não me enjaule simplesmente para seu bel-prazer
Sou bicho solto a discorrer

01/08/2016