quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Tem Vida Lá

Minha cabeça está cheia de um mar de coisas já vividas e não vividas
E os amores causam implosões que por vezes não nos deixam por o rosto na janela
e observar quem vem e quem vai

Amamos várias vezes , de várias formas... Mas tudo é amor!
De pai, de mãe, de irmãos biológigos ou não,
Precisamos do calor do amor

E nestes dias de calor tenho a sensação de que cai da ponte que cruza o rio 
E vejo água que migra para o sertão de minha alma levando com ela cachoeiras. Então, saio rumo aos ventos calmos e bons - leves brisas - e medito
Sigo-as borboletas voando sobre o jardim orvalhado pela manhã que desponta.
Acho que tais borboletas também amam o rio!
Pois tambem as vejo mergulhar no lago.

Disseram-me que eu teria apenas um anjo a guardar-me... Acho que tenho muitos !
Tenho um avivamento na alma que sorri e torna minha vida leve como pluma

Meus momentos de angústia são raros, custam-me algumas noites em claro a sonhar acordada

Palmas pra vida!
Restos de pães sobre a mesa tem dono:  pássaros! 
Restos de milho nas calçadas sem dono:  lapsos!
 
Abro a porta do mundo que recrio todos os dias para as luzes que me tomam trazendo o brilho necessário aos olhos

Minhas reclusões são normais aos anormais,
Minhas alegrias vem e vão todos os dias, eu as vejo em tudo e todos
Meu mundo está feito há muito tempo,  
E é para a vida o que vivo.


Corina Sátiro - 27/03/2015

Teus Olhos

Se algum dia

Ainda que por fração de segundos

Perdesse a profundidade dos teus olhos

Peregrinaria sem rumo no etéreo.

Peregrinaria, sim.
 
E por todos os dias meus lábios

Permaneceriam congelados numa neve rubra

Jamais vista antes do pôr-do-sol.

E meus dias e noites adormeceriam em silêncio

Por séculos e séculos.

E de minhas mãos nenhum gesto,

De meus olhos nenhum brilho.


Corina Sátiro.  -  maio/2004

domingo, 23 de agosto de 2015

Olhos Bélicos

Corações são moleques inconseqüentes.

Abrem seus peitos

A qualquer amor,

A qualquer dor;

Batem em qualquer peito,

E numa noite, tomados por uma  arritmia, (medo vem, medo vai...)

Descambam mundo abaixo.

Eu, sem a verve daqueles que encantam,

Já não tenho o meu,

Porque meu coração Latino-americano

Anda distante, anda tristonho;

Muito além dos seus quintais.

Um dia pensei:

Talvez morra ainda jovem, e não morri!

Suas batidas imergem na escuridão de uma noite imensurável. 

Ou, (vá saber!) sobreviva a guerra iminente.

Meu coração perdido anda ferido,

Porque olhando o  Oriente vai morrendo aqui na América Latina.

Corações moleques,

Corações de lá já não sabem o frescor da chuva, 

Corações daqui  em meio ao nevoeiro,  calam-se.

Sós, em meio ao nevoeiro, calam-se,

E meus olhos desencorajados permanecem olhando o "nada" que vem.



Corina Sátiro – 20/08/2015 

Catedral

                                                  Ah , Catedral ! Aí estão os santos?

                                                  Vi anjos esculpidos em relevo em tuas paredes amarelo-ouro.

                                                  Têm lindos olhos os meninos anjos.

                                                  Que dó tenho eu dos meninos anjos!

                                                  Observam o pássaro que se recolhe triste e encolhido sobre um fio elétrico

                                                  Num poste bem a frente de seus olhos de gesso quando cai a chuva...

                                                  Ai! Tenho medo que meus olhos tornem-se olhos de gesso!

                                                 
                                                   Corina Sátiro - 02/05/2000

 

sábado, 22 de agosto de 2015

Era Ele?

A noite chega esmagando o dia.

Os pensamentos voam e é sempre bom lembrar quem somos.

E se um dia você sentir dor  levarei o mar daqui;

Levarei o céu que é de todos e não tem espaço geográfico.

 

Está frio aí?

Você dorme bem?

Tomou o café da manhã?

Extasiou-se ao amar alguém?

 

Aqui o inverno já se vai aos poucos.

Deixa a luz para trás e vai assim como quem se perde sem perceber.

E a noite está calma como a lua cheia que esbarra nas marquises

Dos prédios mais altos da cidade.

 

As folhas secas já caíram e correram com o vento como se fugissem... 

E se me esqueço do seu jeito de falar!

Fico a te desenhar nas mesas dos parques,

Naquelas gotinhas de orvalho que a noite esquece de guardar.

 

Eu vi o trem passar.

Não um trem qualquer com o som de um apito qualquer,

Um trem de janelas espelhadas onde seu rosto parecia refletir a vida

 
 

Corina Sátiro - 11/07/2006

Índios

No fim do oceano, no horizonte,  
Cabanas construídas com folhas.
O primeiro andar é do sol traduzindo luz e paz na Terra,
O segundo andar da primeira maré alta.
Passar horas sonhando ou correndo!
Há muito me perdi no convés de um navio pesqueiro, não sou daqui!
E a bravura dos homens fizeram embrenhar-me na mata,
Usei minhas flechas para fincar sementes na terra e não viram!
Indígena descendente que sou...
Minhas raízes fortes têm cheiro de mato.
Eeeei!  Que mar traiçoeeeiro!
Fuçando meus olhos vermelhos!
Que era aquilo?
Revolto e silencioso
A açoitar- me de gotículas que bebem areia...
Ai meus medos!
Sou filha de água doce!


PS.: Nossos anéis escondidos nas asas do cisne branco surpreendentemente brilham lançando raios de luz em tua pele branca. E nosso futuro tem filhos de todas as cores, tem acenos de paz ao mundo inteiro.
 
Corina Sátiro – 02/04/1982

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Homem

Me olha de dentro do casulo.

Resguarde-se

De quê?

Respiro.

Eu quase posso ouvi-lo

Num colóquio sussurrado falando de flores,

Dançando sozinho, vivendo as cantigas de roda

Ora menino, ora cão

Que fareja todas desfilando "nuas",

Experimentando meninas desajustadas.

Vira às avessas, transpassa a retina das esquecidas.

Eu nunca o vejo, nunca celebro sua chegada

Nem pelas tardes, nem nas vazias madrugadas

Onde as viagens são corpos sós e nus;

Desprotegidos, fingidos, maquiados...  

Ele é noite; eu, dia...

Ele é sonho.
 
Parte fantasiosa do meu livro não escrito.

Traçado sem permissão.

 Corina Sátiro – 18/08/2015

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Moinho

Hoje descobri onde fica o moinho.Sentei-me as margens do rio a olhá-lo enquanto as folhas
secas eram arrastadas pela ventania e rudemente arranhavam meu coração, a criar lesões

que posteriormente transformariam-se em cicatrizes que perdurariam algumas luas E o
moinho girava velozmente a esmagar a água agonizante entre seus braços compridos, Sorria ao ver meus olhos embaçados pelo lixo que vinha com o vento que surgira

inexplicavelmente.Acho que adormeci. E ao adormecer senti meu coração ser arrancado
pela escuridão e esmagado pelos dentes que vira gargalhar e esmagar as águas do velho moinho.

Doeu.
Perdi meu coração ás margens do rio assistida pelo furacão do ódio que teria sido soterrado
pelo tempo corrido.Avassaladora ventania a levar sonhos, A soterrar meus pés que

afundavam na lama de lágrimas misturadas a terra e ao horror. Então ouvi meu choro a
jorrar lágrimas para dentro da alma esguichando sem direção toda a minha alma

Virando orvalho seco.
Moinho envelhecido, moinho antigo e petrificado

Por que encantei-me com as histórias dos moinhos?

E cobri o rosto com as mãos geladas, assombrei-me!
E corri pela relva a procura do rancho,

Do canto do rouxinol, assim viveria para sempre.

Corina sátiro - 05'10'2014

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Marinheiros

Os baderneiros seresteiros eram  homens marinheiros

A tocar clarins no cais

Viajantes desprezados por  sereias, belos seres encantados

Por dom dos deuses, assexuados, sem poder acasalar

Os baderneiros seresteiros eram homens marinheiros

A tocar clarins no cais.

Viram noites, viram dias a destoar as alegrias

De quem vai remar no mar

Pelos olhos das sereias que desnudas se bronzeiam 

Choram, cantam, desnorteiam.

São os mártires dos sonhos, e às moças que os querem:

Seus túmulos serão no mar.

 
Corina Sátiro - 07/03/1980

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Espelho


Um ruído na noite interminável.
Um espelho quebrado e o medo de olhar;
Um medo de ver meus eus estilhaçados,

Refletidos dentro das poças de lama.

Muitos eus! 

Alguns brincando no jardim de minha infância, 

Outros dançando no inferno.
Alguns invadindo teus olhos dispersos.
Meus eus atrevidos, mal vestidos...
Eram cuspidos logo em seguida por um eu sufocado de medo.
Durma minh`alma, não os queira ver!
Eus miseráveis.
Outros eus?

Lá vão eles de mãos dadas cercando exércitos,

Atirados à guerra milagrosa.

Deveriam ser solidários com a morte!

Num grande teatro
Gargalham na platéia,

Sobem ao palco e viram palhaços!

Brincam, brincam, brincam, brincam!
Abraçam os meninos atores no final do ato,

E sem que se perceba somem pelos grandes corredores.

Corina Sátiro - 10/06/2005

Palavras


Diz
 
Que veio só,

Que nem percebeu que não vai ter sol,

Que tem medo do mar e das águas profundas que lá se vê

Tal um barco assustado que fica perdido nas ondas.

Que viaja no céu azul,

Que já conhece os labirintos, os cometas, os gametas;

Que já está em meus passos lentos,

Que nunca terei pesadelos,

Que a noite será calma,

Que tem meus segredos guardados.

Diz
Que sabe até do meu riso arrastado,
Que estamos por aí,
Que o amor não tem hora e nunca morre,
Que conhece os riscos de não viver plenamente,

Que pode cantar até ao amanhecer.

E aí,
Se durmo, sonho,

Se acordo, lembro,

Se lembro, quero,

Se quero, é muito,

E o muito é pouco.

Corina Sátiro - 05/02/1993

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Feridas

Bem aquém estamos para ferir.
Somos pacíficos!
Mesmo aos que nos iludiram com festas, com risos e promessas.
Podíamos, com fome,  largar umas palavras afiadas à nossa língua torta e inerte
E aos seus ouvidos “surdos”.
Podíamos gritar, gritar, gritar... (#%¨*¨$#”>>¨¨#*)
Não, não!
Estão longe para ouvir-nos!
Tingidos de mentiras, usando nossas cores
Verde, amarela, azul e branca em viagens por esse mundo tempestuoso.
E nossas cores e meninos?
À beira do caos.
Antes arrancassem os ventres de mães e pais...
Ninguém mais atravessaria as pontes para tentar enxergar nada!
Nenhum número;  nem dois números, nem três...
Nenhuma criança a morrer de fome!
Nenhuma criança a roubar,
Nenhum menino a desejar um fuzil
Já que nas costas carrega a dor às margens da sociedade.
Bem aquém estamos para ferir.
Somos pacíficos!
Seremos sempre pacíficos !

Corina Sátiro – 10/07/2015

domingo, 9 de agosto de 2015

Atos

Meu pequeno príncipe, não preciso de sábios momentos.
Não os gravo em minha memória curta e desajustada.
O quê me dizias mesmo de tuas madrugadas?
Das minhas tenho os guerreiros que lutam por minhas pernas bailarinas,
Quando me deito como criança e desperto adulta.
Uma louca tal qual aquelas que acharias nos cabarés;
Que vira e revira seus atos (falhos?).
Te deixa morrer com o desejo encoberto pelas flores que recebi do cavaleiro andante.
E na noite que morre me aconchego nos braços da armadura de ferro.
Meu grande príncipe, nem tal armadura tiraria minha candura
Ou meus olhares escaldantes que te observam mortificados nas camas alheias.
Onde te achas ou te perdes de ti,
Nasces ou morres para mim.
Não te tenho amor,
Mas minhas pupilas dilatam ao toque dos teus dedos.
Dos meus dedos já caem as unhas quebradas
E canto como sereia perdida nos rios doces a procura de um mar.
Tu te afundas ali em tais rios ao ouvir meu canto,
E te encanto por um só dia nalfragado em nós.
Então tu conheces meus atos,
Falhos ou não.


 10/03/2004

sábado, 8 de agosto de 2015

Silêncio

O  Silêncio tirano exclui meus risos quando estes não poderiam fazer parte
De tudo o que posso adquirir com as visões que me vem de dentro da solidão de hoje  
O  oculto e o ocultismo chegam quando as palavras calam
E minha morte é quase  vista em suas tolices.   
Quão tola é a morte quando a vida sobrepõe-se num grito que ecoa.

Vãos  de escadas - mais pareço.
O  silêncio é o peso abstrato que mais  pesa em minhas costas doídas,
E ainda assim os olhos me fecham e rio de mim,
Solitariamente rio do fim que acaba sem começo!
E sorvo o café enquanto observo a peça de louça branca na mesa vazia.

Não vá medir-me a distancia!
Calcule o tamanho imenso da sóbria embriaguez
Que me açoita no início da noite
Quando olho a vida com cara de quem a conhece em sua plenitude...
Quanta tolice!

Diante do tirano silêncio dobramos nossos joelhos
E vimo-nos cair em prantos...
Já não é hora de dormirmos?
O silêncio mata os sonhos.
E enquanto dormimos o sentimos falar, falar, falar...

05/07/2006


Quereres

Quis te procurar,
Te molhar com a chuva que desce calma pela madrugada;
Te sufocar com beijos loucos e embriagados de vinho morno.
Quis me dar, me achar...

Quis um sol depois da chuva que adentra a  madrugada imensa

E escorre lenta sobre minhas pálpebras cansadas.  
Quis te ninar, te mostrar os caminhos do sol,
As profundezas dos rios, dos mares revoltos que invadem as ruas
Beijando meus pés descalços.   

Ah, Eu quis teus braços!

Teus laços atados aos meus tortos passos noturnos!

Dançarinos, meninos, em meus desatinos;

Transviados, marcados pela ausência do meu imenso querer.

Ah, eu queria era viver!

Teus risos doces, cheios de alegria, de vida bandida;

De vida nos leitos, no cais, nas esquinas paradas no tempo.

Quis ver meus sentimentos mais leves que o vento que foge dos litorais

Visitados pelas dunas acinzentadas de maresia.

Quis teus olhos espertos, dispersos,

Mas era tarde e  eu já dormia. 

 

Corina Sátiro – agosto/2015

 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Menino (homenagem póstuma ao meu irmão Jorge Sátiro )

O meu menino moreno de olhos serenos
Já foi-se embora.
Deixou-me somente a cidade,
As luzes do parque, e uma dor tão doída...!
Saiu durante a madrugada
Pisando na vida, visando as calçadas;
Jurou que não mais voltaria e foi entregar-se a vida vazia.
Vida vadia... de bares, de copos, de bafos;
De choros e chorinhos.
Que menino mau!

O meu menino do peito partiu
E deixou-me sem graça e sem jeito.
Correndo pela noite adentro sem rimar a vida
E os versos cinzentos.
E agora a passarada do parque
Reclama comigo as mesmas migalhas
Da melodia que tanto me falha.
Que menino mau!

E o meu olhar tão cansado
Atira nos versos um bom desagrado.
É culpa do meu coração
Que não quer,
Que não pode,
E não vai ser em vão.
Que menino... menino.

 
Corina Sátiro - 04 de maio de 1986

Aplausos

                                                      
Esta é a aura que tenho na simples condição de criatura.

E você me vê aqui no palco em meio aos holofotes sob as luzes.

Não vê que não há palco, criatura?

Obstáculos em círculos nos separam os fragmentos doloridos.

Neste momento vejo-me como a criação do Messias, não como criadora de nada,

E vejo as variações dessas formas criadas.

Todas férteis, aflitas, sorridentes;

Todas fustigadas, de encontro a fadiga - mas, só.

Aplausos para as caricaturas desenhadas quando todas as vozes se distorcem

Num eco estridente, assustador e comovente.

A bala entrou no coração doente, 

Bem no meio do peito!

Esta é a cena no cenário sujo.

Criaturas criando versos.

Em meio ao cenário sujo...

Meu submundo no camarim. Isto ninguém viu! 

Julho de 2015