quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Desejos


Ruídos, susssurros, vozes que façam revelações íntimas mesmo que sem nenhum sentido.
Gosto de sentir cheiros, perfumes,
Gosto de suavidade nos carinhos... suavidade (nem sempre!) os quentes também me fascinam, me dominam... Não ao morno... Às vezes prefiro o que queima, pois existe em mim também a fera que se perde em seu instinto irracional...
Gosto de risos largos, afagos - corpo e alma - sempre.
Gosto de pensamentos que viajam e buscam mãos, braços abertos, olhos;
noites intermináveis quando a vontade é de que nem amanheça só pra ficar juntinha e adormecer.
Gosto do amor que se faz a toda hora,
Bocas que bebem o gosto dos sentidos aguçados, revelados...
Gosto do teu rosto, do teu riso,
Procuro tuas mãos, me acho,
te acho.

Corina Sátiro - 29/09/2016.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Passificar


Não, às perversas batidas do meu coração frio que podem matar a esperãnça dos olhares pueris -  o que seria inaceitável à vida e preciso ao breve futuro.

Não,  à impulsividade e a segurança das metades do fruto que queimaria ao receber o frio do sudeste desnorteando o litoral.
Não, à semeadura do trigo em terras inférteis. Não!

Vivo pela passagem do vento refrescando minhas limitações até que esfarelem-se e caiam ao solo.
 Vivo do rubor nas faces, e pelo que sinto queimem em meu espírito.

Corina Sátiro - 27/09/2016.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Três


Ando atrelando ao meu lirismo contemporâneo a forte emoção conturbada
Das três irmãs,
Da regra três,
Das três horas - madrugada.
Do terceiro mês - nascimento do príncipe  esquizofrênico,

meu herdeiro sobrinho...
Com roupinhas amarelas aos três anos em uma foto antiga comendo giló e bananas com gula de gente grande.

O príncipe chorou muitas vezes e eu desesperava-me dando-lhe colo.
Menino chorão e belo, rico em expressões, às vezes palhaço rindo...
Por outras vezes rindo do palhaço imaginário.

O três - terceiro olho - sexto chakra...
As Três Marias olhando-nos a passear nos parques, a jogar bola, brincar de esconde-esconde...

O pequeno príncipe cresceu e anda a divagar... Mas na realidade, tinha três irmãos.

Três - ASS - letras iniciais de seu nome.

Te guardo em mim nesta distância, menino príncipe.
Te guardo, sempre...
Sempre guardarei.

Corina Sátiro - 26/09/2016

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Encastelados


Vamos?
Vem comigo!
O mar tá sorrindo pras gaivotas hoje, tá cheinho delas brincando, banhando-se nas águas.
Vem!
Preciso te mostrar...
Corre comigo!

Surpresa!

Com os grãos de areia ergui um castelo.
Podemos entrar nele!
Subamos as escadas e olhemos da torre.

Olhe a vista pro mar agora, os cardumes que fogem dos pescadores,
as ondas que dançam por nos perceber a admirá-las.
Daqui, você eu poderemos escrever poemas, crônicas...

Os marinheiros sorrindo no cais em sua  volta pra casa, os barcos que dançam no azul das águas... É mágico!

Ah, neste castelo plantei os sonhos que colhi na infância.
Corridas pela chuva,
Chutes nas poças d'água,
Banhos nas calhas das casas...

Ergui-o na noite em que caminhei só, observando o farol girando e brincando de colorir meus olhos sentados em um arco-íris escorregando nas cores que dele saiam.

A Terra girava comigo.
Os edifícios giravam soltando flores pelas janelas...

Vem comigo!
Vem!
Corre comigo!
E quando nos cansarmos,
Sentaremos na praia segurando os grãos de areia sem deixá-los esvairem-se entre nossos dedos.

Corina Sátiro - 22/09/2016



'


O Mal da Montanha

Subi, subi , subi...
A enorme faca motorizada viria do lado oposto para atingir uma irmã indefesa
A tontura me veio com a náusea e senti a dor em meus olhos que a tudo assistiam

Minha  vértebra curvou-se como roda gigante me levando ao chão
Enquanto a irmã araucária dobrava-se ao ser decepada

Algumas lágrimas desceram em meus olhos ao assistir a irmã degolada
Que também chorou
Amaldiçoei por milênios o ser da enorme faca motorizada que usava vestes de couro cru e botas longas

Era uma dor de morrer

A araucária e seus filhos choravam, e lágrimas desciam às pedras que as amparavam criando lagos
Meu choro era silencioso e tinha uma visão quase mórbida
As montanhas não são inóspitas! Não são, não.
São santuários!

Minha vértebra curvada tal como roda gigante me transformava em uma roda a despencar no abísmo do absoluto desrespeito de meu irmão

Então vi a irmã dormir para sempre enquanto suas sementes
Deitavam-se ás margens do rio
Precisava pegá-las!

Precisava cuidá-las...
Adormeci da dor que era a maior que já havia sentido:  impotência

Achei que teria sido tomada pelo “Mal da Montanha” - antes fosse
Voltei a amaldiçoar o ser das vestes de couro cru:  meu semelhante

E gritei:

 "Acordem nossas crianças para isto!"
" Acordem nossas crianças!"
  

22/09/2016

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Meia-Luz


Gosto do escuro e da meia-luz.
No escuro viajo pela Via Láctea e vejo outros mundos, conheço outros seres viajantes, beijo uma estrela assexuada que nasce sorridente e me oferece luz enquanto tu dormes.

Sabes que sou viajante em tantas vezes que adormeço o corpo e te aquietas para que eu vá me fortalecer nos lugares de origens desconhecidas por ti. Assim me acolhes em teu íntimo.

Mas ao voltar, na meia-luz, vejo teu corpo coberto e descubro-o. Em cada detalhe percebo um desejo vivo e audaz ao ponto de me luzir os olhos e fascinar a vista acizentada pelo pelo negrume da noite.

Tanto amo teus lábios com gosto de uvas vermelhas!

E em tua pele sinto o cheiro de pêssegos maduros que nos salienta a libido devolvendo-nos o prazer. E sob os lençois deito-me nua e a sorrir; a buscar teus olhos e o frescor de tua pele que exala cheiro de flores e calmaria.

Respiro teu hálito com gosto de mel puro a lambuzar os lábios quentes na noite fria que nos encontra.

 21/09/2016

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Omissão de Palavras Mudas


As músicas que ouço me fazem lembrar nossas poucas palavras, nossas escritas com seus diferentes estilos que permanecem em meu lugar preferido: minhas veias, que sem o sangue azul  amarelam-se como os últimos raios de sol que despedem-se apenas por uma noite voltando a brilhar nas primeiras horas que trazem o amanhecer.

O sangue

Como amazonas perdidas que não dominam seus cavalos e veem os puros-sangues galoparem quase que sem rumo em um corpo largado à distância perturbante sem ver raiar a luminosidade do mesmo sol que se fora na noite anterior e coagulam na abertura do ferimento indizível.

O querer amolado

Tento desesperadamente compor e musicar uma canção pra te ter sempre presente e não consigo por que quando dedilho as cordas ouço teu silêncio de sempre. Aquele que fez morada em ti e  contagiou-me calando-me talvez para sempre nos diferentes versos que compunha.

Porvir

E o futuro desconhecido me amarra em baixo da soleira de minha porta. Deixando-me duas taças de cristal para algum evento, mas tenho minhas mãos atadas.

Corina Sátiro - 20/09/2016

domingo, 18 de setembro de 2016

Alguém no Etério

Chove...
Uma longa capa cinza cobre-me os ombros enquanto caminho devagar.

Gosto de noites, bem como amo flores.
Gosto, seja lá como estiverem, com chuva ou estrelas.

Sinto-me fortalecida por meus passos aéreos.
Os de sempre.

De repente alguém!

Coincidência?
Percebeu meus passos solitários?
Me via estes passos quase todos os dias?

Contava os pingos da chuva?
Estaria numa mesa somente a rezar?
Estaria a me esperar?

Falamos.
Eu, pouco. Muito pouco.
Por instantes tive a sensação de não saber onde estava.

Uivos ao longe... Eram meus!

Morcegos arrastando relâmpagos...
Raios (morro de medo!). Meu único medo.

Alguém me olhava e falava sobre um romance estagnado.
Eu dizia que achava que o meu tinha começado...

Alguém estava só como eu.
Alguém tinha em mãos um livro aberto e falava também sobre achismos...
Eu acho ...

Lembrei-me de tudo o que achava.
Compreendi então, que simplesmente achava.

Paramos ali naquela adega.
Alguém falava e eu apenas ouvia.
Algumas taças, mais algumas...

Alguém que me olhava e sorria despia-se em palavras.
Alguém seria meu espelho?
Minha extensão?

Resolvi que devia explicar-lhe que precisava  voltar para casa e ler "Antologia do Êxtase" e os quarenta poemas de Walt Whitman. (Aconselhada por um amigo), e que falaríamos tudo aquilo num outro dia com ou sem chuva.

Corina Sátiro

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Duplo Laço

Me tens. E desnudo-me perante teus pensamentos permitindo a mim e a ti sonhar e sentir até onde nossas bocas nos vejam e nossos olhos nos sigam e sintam com nossos corpos e almas uma vida inteira em segundos, e em segundos uma vida inteira, pois tudo me foge a razão.

Quem disse que o amor tem razões!?

Te percebo em um sétimo sentido onde
teus gemidos, como sonoridade perfeita
,defloram meu tempo perdido para que então eu possa encontrar o êxtase que a mim permito e a ti entrego sem limites ou pudores.

Deves ter em mim uma, duas, três, quatro mulheres sem ver semelhanças  em nenhuma delas. Posso ser mil direntes mulheres se assim quiseres, mas tenhas somente a mim, pois não caberia outra nesta minha dimensão imensurável de sentimentos.

Não caberia a mim qualificar ou desqualificar nada. Somente mostrar a ti quem sou; sei quem sou. Então te  amplio delicadamente a visão e mostro a mulher que nasceu e cresceu em mim.

O amor em mim é claro, puro, fiel e tem cheiro de verdades, de respeito, de cumplicidade... Rendeu-se a ti.

E sonho, sim!
Sou uma sonhadora que em reciprocidade divide um amor com carícias, com cumplicidade e também movido por céus e terras durante o ato celebrado e dividido por amantes.
O ato único que tranforma os dois em apenas um.

Se enlaças-me, te enlaço com a delicadeza da mulher que buscastes e que encantou-se com tudo o que viu em ti.


16/08/2016

Fuga

Um animal aprisionado pode arruinar-se,  e debater-se até que lhe abram portas às trilhas

Então os parques se abrem num campo de flores a olhar o coração frágil e pulsante que suplica caminhos livres para a fuga

Em passos longos adentro a noite e sei que ela é guardiã das frágeis criaturas que sofrem uma espécie de metamorfose espiritual
Percebendo que há luzes nos céus salto no tempo a correr

Outro horizonte:

Outra trilha paralela leva-me às ruas
onde caminharei até ao amanhecer e despertarei noutra vida sem os temidos predadores

Novos horizontes me levam a viver
O nevoeiro dissipa-se aos poucos e corro de minhas ilusões a procurar a máquina do tempo para voltar a reecontrar-me em tempo real

Talvez possa voltar ao meu habitat quando a harmonia fizer morada em
meu jardim.

Em minha volta os predadores saciados já estarão a trilhar outros rumos.

16/08/2016

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Manhãs


Te vejo dormindo e te afago sem que percebas deixando minhas mãos deslizarem sobre as tuas aquecendo-as como sempre fiz todas as noites.

Me deito ao teu lado e me aconchego devagar para que não acordes.
E com o zelo e o amor que te tenho vou buscando o teu corpo enquanto dormes
para o aconchego ao meu.

Com um abraço delicado te envolvo para que possas sentir-me sem despertar.
Apenas revira-te na cama voltando teu rosto para os meus olhos que observam tua respiração leve, calma... Como as ondas do mar que te escrevi numa noite qualquer.

Te deixo um apanhado de sonhos que roubei das madrugadas e de nossos passeios noturnos penetrar os poros. Percebo com encantamento teus risos em sonhos.

Teu coração bate bem devagar.
Te liberto da insônia que te abate.

E quando amanhece saio sem deixar bater a porta esperando o dia do encontro onde nossas almas e corpos dêem forma a sede e a fome dos lobos adormecidos.

 16/09/2016

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Dama de Louça

Hoje fui triste.
Não sei a que horas por que estava rindo e dispersa.
Feroz na voz, enjaulada em ruas sem fim, caçada...
Não fui vencida e não sou anjo, voo e não tenho limites, o infinito é minha casa mais próxima.  
Com voz estridente gritei para que abrisses os olhos e me ouvisse,
E tentei dizer que não é bom ficar assim, somos a canoa que virou.
Verdade, virou numa queda sem nenhuma gota D`água.
A Verdade sobre ti, não sei.
Fui vencida.
Não te quero mais,
Não sou domesticável como pensas, submissa ou não, sou a dama que se quebra.
Não tem solução, as verdades doem.
Não fui banida... Por que não fui? Não sou heroína. Sou alma.
Sou a dama que viaja no trem para os confins, no fim.
Hoje não me gosto, mesmo que rindo e dançando,
Hoje estou cruel, num dia de adivinhações,
Ferindo meus próprios olhos..
Qual é a mágica que me traz pureza e risos a estas horas?
Qual é o risco de não viver sorrindo?
Não tenho medo de chorar.
Nunca tive.
Não quero! Não quero!
Chega de falar com olhos que nunca me viram,
Com bocas que não me falam.
Fecho os olhos.  Fecho a porta.
Fui perdida, fui vencida.

Corina Sátiro – 12/09/2016

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Busca


Se hoje prefiro estar só, por que abordas-me sobre o que faço e o que quero, ou como estou e onde vou em minha quietude?
Renasci nas horas que se passaram naqueles meses, no ano que findou  lentamente e que já não existe em meu tempo. Meu calendário rasgou-se na solidão imposta que escolhi para mim.
Assexuei-me por um tempo... Assim quis, por mim. Apenas por mim. Portanto, não irei a leilão e não estou nas esquinas. Nunca estive, como bem sabes.  Sou a minha própria mão a buscar-me devagar e gentilmente para o novo.
O que pensas que ainda tens de minhas dores que se foram junto ao cançaço de observar-te sempre irredutível?
 Já não me são incompreensíveis tuas ações irracionais.
Se queres o meu amor, sim, tens. Não o que nos trazia urgência e nos fazia livres durante o prelúdio da nudez.
Se o queres,  transforma-o em luz que prepara teus caminhos ilusórios, em flores azuis, ou naquelas estrelas que costumávamos observar da varanda nas noites enluaradas.
Quantas vezes preciso dizer-te que o amor nunca morre? Vive para sempre. Apenas transforma-se.
Em nosso caso trouxe-me o silêncio e a tranqulidade. Foi transformado em distância e posteriormente será risos.
Acho que tu não viu meus medos, meus calafrios na madrugada, tampouco ouviu meu silêncio que te pedia simplesmente paz, pois era o que eu precisava.
Preparou-me a comida e a frieza de meus olhos ao deixar-te ir.

Lembre-se do o amor trasmutado. Não morto, mas das mudanças que a vida a ele impôs.

Corina Sátiro - 13/09/2016

"A Casa Do Fim Da Rua"

Tento entender o que vejo em fotos que podem ter sido recentemente tiradas ou há milênios desenhadas...
Lembrando-os que meus olhos podem confundir as visões que tenho,
pois a miopia me põe a usar óculos ou lentes

Meus olhos não percebem bem muitas cores e não enxergam somente dores
Apenas veem coisas sombreadas ou iluminadas, tais imagens me parecem estradas sinuosas.
Uma tintura ou um grafite mostram um rabisco na vida de alguns, num momento de alegria ou de tristeza.., Outros me mostram a paz evidente em algumas cores que os tomam

Com sorrisos mortos ou vivos eu os vejo em seus amores perdidos ou encontrados; ou em suas alegrias numa grande euforia que confundem-me
Surpreendo-me ao não ver meu sexo, e penso que nunca o tive, mas sou uma mulher.
 
Teriam desenhado também minhas tantas vidas, faltando-me apenas a chegada a este recinto desconhecido onde não sou nada?
Por que estou aqui?
Lembro-me de ter chorado ao descobrir tais coisas ocultas aos meus olhos adolescentes

Quando adentro tais quadros o tempo está parado para os que lá "vivem".
Alguns têm olhos mortos, outros os têm ainda vivos, e muitos estão numa sobrevida.

Posso vê-los

Suas mãos não acenam e seus braços não abraçam mais, apenas buscam e precisam de outros braços que os levem a saída... Onde está a saída?
Sinto emoções diversas e inenarráveis
São muitas salas e jardins, nem sempre sei o que fazer...

Eles estão ali em minha mente?

Moldo-me à luz e sinto a leveza do ar nos tais quadros luxuosos e brilhantes
Observo o cristal que se sobrepõe ao espelho que reflete a luz que vem do porão que vasculhei à procura de explicações.

Devo esclarecer que não sofro de esquisofrenia.
Talvez esteja aos pés de meus rumos ou missão...
Acordo a pensar e sinto a leveza nos recintos onde caibo


12/09/2001

sábado, 10 de setembro de 2016

Monte do Sino

Precisei ir ao monte e lá acho que encontrei as respostas para minhas tantas perguntas.
Quantas coisas perdemos. Deslizaram de  nossas mãos.
Tive dó de nós.
Se estivesses aqui poderia ver a cidade lá em baixo toda iluminada.
A vista daqui traz as estrelas para bem perto, posso senti-las queimar-me.
Uma luz muito intensa percorre meu corpo fazendo-o tremer. Minha mente expande-se agora.
Gosto de estar por aqui -  onde encontro meus pirilampos.
Nos jardins deste lugar não existem flores... Mas tudo bem. Tudo está bem agora.
Há um canto de uma mulher que parece estar mais viva que ontem nesta madrugada.
Ri de seus risos.
Cheia de luzez que arrastam-se às barras de seu vestido branco.
Não sei quem é ela...
Esqueçamos
Hoje é o dia em que espero ter pés para subir mais e mais
até chegar ao abrigo iluminado.
Agora estamos aqui dentro de nós.
Não chore.
Ouça a mulher que canta harmoniosamente para o infinito.
Ela vai ao céu e volta ao mundo.
Volta. Sempre volta.

Corina Sátiro - 10/09/2016

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Mar Negro

Sei que descuidei-me ao deixar o veleiro à deriva enquanto dormia profundamente em meu cansaço navegado em meses sucessivos.

Agora acordo e sigo pelo mar aberto tentando enchergar a tempestade que veste a negritude da noite abraçando o luar.

Perdemos o azul do mar nos teus raios lunáticos. Agora choro e rio do medo que me toma.

Por que te aproximas destas águas profundas? Sabes que quando te aproximas demais erras trazendo o caos.

Provocas a ira das grandes e imponentes ondas do grande lago terráqueo
que não pode com tua proximidade.

E o medo sentido lhe traz as espadas dos guerreiros das cidades perdidas nas profundezas das águas sem sua mansidão.

Abaixo das águas estão as almas desconhecidas por nós: os guerreiros de navios nalfragados nas tuas idas e vindas.

Queria eu estar dançando um bolero na ilha encantada onde vive a irmandade que procuro.

Giro em meio a tempestade, tenho as pernas banbas e canto na dança dos raios que não me atingem mais.

Assim , dentro do medo, esperarei a calmaria e o amanhecer ensolarado.

Minha ilha me espera. E lá deixarei meus restos mortais sob as areias brancas e virgens.

Corina Sátiro - 09/09/2016

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Amor


Sei onde fica o amor. E olhem que é difícil entender quando aparece em lugares que julgamos improváveis.
O amor fica na gente quando somos GENTE.
O amor é imortal. Trascende...
Multiplica-se, triplica-se...
Nasce em todos os lugares limpos, é majestoso, é frágil, é forte e poderoso. Cura. O amor cura!
Vindo de uma semente, amadurece aos poucos e transforma-se em fruto, e quando experimentado deixa o sabor perpetuado.
Amor é paz.
Amor é sempre, sempre, sempre...
Há quem o confunda com paixão,
Mas o amor também tem uma paixão que o acompanha e  às vezes fica pelo longo caminho. O seu trajeto tem estradas sinuosas, entroncamentos...
É preciso atenção.
O amor é fusão de almas.
O amor não mata, ressuscita.
O amor é vida.

Corina Sátiro - 08/09/2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Respingos

Chove, e esta sinfonia que ouço em tão bela harmonia
bate no telhado cheio de folhas secas
e desce pelas calhas tombando nas ruas sujas.
Sons perfeitos juntam-se ao bater de asas dos pássaros em revoada a procura de abrigo.
Isto ecoa dentro do meu peito e foge pelos meus olhos,
saindo pelas janelas, atravessando as ruas vazias
e resvalando na escuridão.
Os sons, os tons e a névoa, brilhantemente enchem de beleza
a palidez das luzes artificiais na cidade que dorme.
Parece um sono profundo
visto da janela do meu mundo.
E os pingos respingam em meus delírios.
Em meus sonhos desce teu corpo
que estreita-se em meu colo e, como toda a cidade, dorme.
Mas os teus sonhos são teus - lindos como a primavera.
E os meus sonhos continuam dentro dos meus olhos
confundindo as batidas dos  nossos corações.

 Corina Sátiro – 07/07/2016

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Morfeu


Deus da noite e da paz que adormece-nos
Me atraia ao R.E.M na morte temporária
E na saída dos labirintos da noite em tua grande paz
Dignifique minha mortalidade em tua sombra

Antes do amanhecer solte-me na brisa mais leve
Que possa existir junto as borboletas,
Pois com elas partirei sobre as flores
E descobrirei novos mundos

Imploro-te para que ao libertar-me à luz do dia
Leve-me sempre às asas da razão
Sem o entorpecimento mental dos irmãos mortais,
Leve-me n`uma viagem alegre

Leve-me onde eu possa cantar o lírico em teus braços
Observando o nascer da estrela maior bem devagar
Leve-me contigo ao teu mundo encantado
Onde o sol é desnecessário a vida,


Onde a noite dure apenas o seu tempo
Onde os dias me permitam cavalgar
Em unicórnios aladados na velocidade da luz
Às viagens para os casebres nos sonhos coloridos de onde vim.

Despropósito (?)

Onde me achas a cada dia!?
Nas cidades e ruas que escolhestes para eu caminhar só ao calar-te na tua incerteza da fome e da sede que sabias que desvaneciam também a mim, a tua febre de presença foi a mesma que senti durante tua ausência tão doída em mim envolvendo-me o corpo e a alma numa solidão sem precedentes a levar-me ao mar e banhar-me ao sal das marés lembrando lágrimas soltas por mim em tua pele clara e macia ao tocar teu rosto.

Em todas as ruas e cidades vi teu riso e te senti. Despi-me de meus medos para doar-me a um amor que via nascer iluminado.

Ando do lado de dentro de uma porta fechada por ti, onde o desejo é mais forte que eu. Ao cançar-me durmo sobre as tantas palavras que diziamos e sobre os beijos jogados ao chão com os versos que não me vem sem ti. Estática me vejo a olhar minhas mãos que se cruzam ao lembrar das tuas naquelas noites em que precisávamos do amor que nascia calmamente em nós.

Viestes guardando os segredos e os tantos sentimentos fechados em teu peito a transpassar minha pele morna, privando-me do calor do toque de tuas mãos tão minhas.

Quantas vezes nos demos as mãos na madrugada fria ?
Não tenho medo do que sinto após abrir-me para sua urgência de vida que também é minha.

Sem esquecer-te mergulho nos lençóis contando as horas de te ver sem medo e dando a mim o crédito de mostrar-me sua sem a necessidade de entendermos o que amamos em nós, por que só pode ser de uma imensa grandeza.

Quero cuidar de ti.
Quero-te mais que qualquer coisa que todos os deuses possam oferecer-me

Espere-me. Vou encontrar-te.

Corina Sátiro - 05/09/2016

domingo, 4 de setembro de 2016

Somente Um Querer

Quero os olhos teus a dar vida as minhas  noites insones, quero os sons noturnos aquietados no nosso encontro calmo e preciso;  amadurecido, repleto e completo de poemas vivos, ricos e sem censura.

Quero ao amanhecer deitar contigo nas folhas secas que caem do arvoredo da brilhante e estonteante natureza morta,

Quero tuas mãos em minhas mãos a trocar o tatear e os sonhos pelo abraço sem o insensato medo de amar com todos os quereres, sem limites ou regras.

Quero a energia que sacia a alma e o corpo, o que caiba em mim e em ti sem deixar arestas ou lacunas.

Quero o amor que possa subtituir a beleza do canto dos pássaros que acomodam-se ao ouvir teus passos na chegada.

Quero o amor teu e meu a juntar-se  numa silhueta única que possa esconder a luz fria da manhã deveras pálida da poeira versificada nas linhas do meu velho caderno rasgado e esquecido sobre a mesa,

Quero-te num susssurro límpido aos meus ouvidos surdos de tua ausência.
Quero os lábios que  trazem os beijos que foram guardados

E te ofereço os que guardei com a certeza de serem teus
Quero o teu riso nos meus olhos amanhecidos do puro amor que celebra o mais caro sentimento

Quero o renascimento das horas perdidas nos olhos onde peregrinei e o quase silencioso amor que é teu a plainar sobre a certeza que verás nos olhos meus

É somente um querer

 03/09/2016

Rancho


Eu planto ideias nos relatórios, assim é necessário por minha água e meu pão.

Ah, mas amo mesmo é meu rancho que sequer tem nome.
Não tem luzes nos postes da estradinha de barro onde caminho.

Amo o verdadeiro "bom dia!" do senhorzinho que levanta às três horas para a colheita de legumes e verduras para que sejam enviados à capital,

O romantismo dos violeiros nas praças...

Já plantei idéias de fazer planos.

Agora quero ouvir o vendedor de pães passar vagarosamente em sua bicicleta de casa em casa oferecendo pães quentinhos.

Quero o café fresco.

Em razão da nítida vista dos astros iluminando o céu à noite planejei um nome para o rancho:
"Vale da Lua"...Vale do Luar... Mas já deixei este plano pra lá.

Melhor não ter nome.

O dia ensolarado é o palco num teatro em relembranças da meninice:

Saltar das pedras nas águas dos rios,
gritar bem alto e sileciar em seguida para ouvir minha voz ecoar nas montanhas,

Deitar-me na grama verde e brincar de achar animais nas nuvens estampando e refletindo a natureza no cristalino dos meus olhos.

Expandir meus sonhos,

Ganhar os céus misturando-me as brancas nuvens e aos pássaros migrando para o sul,

Voltar no vento da primavera para olhar as flores que cultivei em junho...

Só.

Corina Sátiro - 02/08/2016.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Subentendido


O carro de fogo quebrou, a estrada estreitou-se no final da vida
O abismo olhou com profundidade
A velocidade de meus pensamentos atônitos

É tardio o meu amanhecer folclórico,
E desmerecido o seu caminhar apático intimidado pelo sentimento desfalecido.

Rumo ao fim da longínqua avenida
Deparando-me com os deuses aflitos
Ao perceber minha psique

Me tomam nos braços e abrandam meu espírito soltando-me ao vento
Agora sou a águia que aguarda o pássaro gigante que ao cantar silencia o mundo

Escastelo-me para não ver e sentir o tempo presente.

Lembrando-me sempre que para tudo há perdão.

Corina Sátiro - 02/08/2016

Sinfonia da Chuva

E o vento nos coqueirais buscarão em nosso nome um raio que acenda o entardecer revelando a fotografia dos teus olhos cheios de mistérios, cílios esvoaçantes e gotas de sal descendo à face tentando confundir inconscientemente minhas indagações.

É notória a impaciência em nossos passos desencaminhando a pressa venosa da insistência que nos abate

Haverá chuva, sim; terá que haver,
Pois não teria a mesma beleza um passeio sob o sol a pino.

Sem as vestes encharcadas da energia que a chuva traz.

Todos se esconderão em seus lares amedrontados com os trovões.  Nós não.

Pois as taças de cristal guardei para o brinde com a doce água da chuva , sem pactos mentirosos, sem juramentos, sem julgamentos. Nada mais... Temos a verdade e assim caminharemos sempre.

Desde bem antes de tua chegada resguardei-me, e mesmo com todo o frio que senti no gelado inverno tive o corpo intocável - diferente da personagem que criei -, fui apenas menina, quase criança precisando de afago.

Foi simplesmente respeito a mulher em mim, pois o amor é limpo e lavado.
Assim será, com gotas de chuva onde dançaremos, onde correremos a bricar.

Pensando bem, a chuva é bem capaz de nos recepcionar com a sinfonia de seus pingos.