domingo, 18 de setembro de 2016

Alguém no Etério

Chove...
Uma longa capa cinza cobre-me os ombros enquanto caminho devagar.

Gosto de noites, bem como amo flores.
Gosto, seja lá como estiverem, com chuva ou estrelas.

Sinto-me fortalecida por meus passos aéreos.
Os de sempre.

De repente alguém!

Coincidência?
Percebeu meus passos solitários?
Me via estes passos quase todos os dias?

Contava os pingos da chuva?
Estaria numa mesa somente a rezar?
Estaria a me esperar?

Falamos.
Eu, pouco. Muito pouco.
Por instantes tive a sensação de não saber onde estava.

Uivos ao longe... Eram meus!

Morcegos arrastando relâmpagos...
Raios (morro de medo!). Meu único medo.

Alguém me olhava e falava sobre um romance estagnado.
Eu dizia que achava que o meu tinha começado...

Alguém estava só como eu.
Alguém tinha em mãos um livro aberto e falava também sobre achismos...
Eu acho ...

Lembrei-me de tudo o que achava.
Compreendi então, que simplesmente achava.

Paramos ali naquela adega.
Alguém falava e eu apenas ouvia.
Algumas taças, mais algumas...

Alguém que me olhava e sorria despia-se em palavras.
Alguém seria meu espelho?
Minha extensão?

Resolvi que devia explicar-lhe que precisava  voltar para casa e ler "Antologia do Êxtase" e os quarenta poemas de Walt Whitman. (Aconselhada por um amigo), e que falaríamos tudo aquilo num outro dia com ou sem chuva.

Corina Sátiro

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