terça-feira, 26 de julho de 2016

Talvez

E agora?

Procuro o céu e não o encontro lá fora.
Por vezes acho que não foi o céu quem sumiu...
Talvez tenha caído, como caem os anjos rebeldes;

Por vezes estou apenas só e meu espírito foge por aí como um desertor com a imponente cara de brisa leve que reaparece somente pela manhã a brincar nos giros dos furacões.

Tão deserta quanto o mundo apocalíptico, tenho o corpo coberto pelo fogo, pelas chamas que gritam em meu silêncio irrequieto.

Somos caminhos cobertos pelas areias das dunas quentes a suplicar:
Oh, estrelas cadentes, não resfriem este mar!
Nem queimem as areias da praia deserta ou das dunas brancas onde caminho presa às ilusões que crio e recrio a cada dia, mês, ano, minutos...

Perversas e infinitamente lindas são as estrelas cadentes que nos fazem percorrer seus trajetos alucinantes mesmo quando não há céu a ampará-las.
Perversidades tão mansas e sutilmente queridas por minha pele-oca de onde caem meus sonhos amedrontados e inquietantes.

E somente dormirão meus olhos quando assistirem ao eclipse total do anoitecido e o amanhecido em mim.
 

Corina Sátiro – 24/07/2016

sábado, 16 de julho de 2016

Planícies

Estava olhando as montanhas e vi teus olhos  em lágrimas desabarem com a fria chuva.

Revirei meus sonhos e vi a montanha em silêncio chorar lágrimas de verões verdes como teus olhos...

De joelhos ao chão fiz a última abordagem ao clarão dos olhos da tarde em despedida ao vale:
Por que tudo se vai? Respondá-me! 

E repetidas vezes pedi:

Não, não despeça-te de meus verões e nem me deixe aqui na chuva fria...


Não, não despeça-te das montanhas altas e refrescantes para os deslumbres das planícies sólidas e secas onde os romances morrem sem sequer terem sido vividos.


Oh, criança, nada posso ver além da chuva que cai agora marejando meus olhos!

Oh, criança, talvez este cobertor escuro que a tarde estendeu aqueça-nos a alma, então...


Então, esqueça-te das planícies e volte a dormir.

Pare de andar de um vento ao outro. 
Agora a chuva já caiu, já afastou-se;  estou aqui.


Não, não despeça-te das montanhas altas para viver o calor das planícies! Adoeceria-nos !

Pense. 

Vi teus olhos marejados da chuva fria e pude secá-los quando já havia frescor nas montanhas.


Lembra-te dos rios onde nadavamos na falta do mar? Na montanha não há mar. 
Por que não há mar? Pergunto-me sempre.

Nossos rios...

Lá estão eles com suas águas mornas, porque o sol ao cair,  lá fez moradia.

Então, esqueça-te das estradass e das planícies e voltemos aos rios a nadar onde mora o sol.


Não, não despeça-te de meus olhos marejados de medo!
Serei o nada a morrer na chuva,


uma alma alma perdida a dançar na fria solidão das montanhas sem luz.


Sempre é tempo de viver! 
Não morrerei nunca!
Jamais, mesmo durante as tempestades com neve caindo aqui...


Não, não me deixe aqui sozinha na chuva fria sem teus verões de olhos de pura luz,

porque posso partir sem ti e virar "coisa "sem alma.

Alma  que estará sempre a caminhar sob o nada.u

 20 /11/2015.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Andanças

Se eu soubesse por onde ando não me sentaria na beira
da estrada mirando o horizonte a procura do sol
Se eu soubesse olhar o que olha...
Se eu soubesse que meu coração está demasiadamente vivo
poderia tocar o céu com as pontas dos dedos
e não me surpreenderia com o grito do povo da terra que canta comigo
Quando sopramos lavas fumegantes sobre minha
alma nua e perdida
Avessa e descrente estaria eu de tantos olhares que me atiram versos mudos todos os dias?
Questionarias o olhar do infinito tanto quanto eu ?
Chorei na véspera do ensaio com o lume dos olhos anoitecidos a beira mar de onde também correríamos a desvendar mistérios...
Mistérios derramados na areia e no impalpável
que permeiam-me os dias atuais
De quem são os olhos que te guiam agora pelas estradas
onde caminho tentando me encontrar sem medo ?
Diga-me há quanto tempo segues por estradas que desconheces ?
Por que nos vemos admirando o mesmo horizonte
que nos parece tão próximo desta estrada que cruzamos ?
Me dê suas mãos para que possamos alcançar o céu e tocá-lo
com as pontas dos dedos.


 05/07/2016