quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Respingos

Chove, e esta sinfonia que ouço em tão bela harmonia
bate no telhado cheio de folhas secas
e desce pelas calhas tombando nas ruas sujas.
Sons perfeitos juntam-se ao bater de asas dos pássaros em revoada a procura de abrigo.
Isto ecoa dentro do meu peito e foge pelos meus olhos,
saindo pelas janelas, atravessando as ruas vazias
e resvalando na escuridão.
Os sons, os tons e a névoa, brilhantemente enchem de beleza
a palidez das luzes artificiais na cidade que dorme.
Parece um sono profundo
visto da janela do meu mundo.
E os pingos respingam em meus delírios.
Em meus sonhos desce teu corpo
que estreita-se em meu colo e, como toda a cidade, dorme.
Mas os teus sonhos são teus - lindos como a primavera.
E os meus sonhos continuam dentro dos meus olhos
confundindo as batidas dos  nossos corações.

 Corina Sátiro – 07/07/2016

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Morfeu


Deus da noite e da paz que adormece-nos
Me atraia ao R.E.M na morte temporária
E na saída dos labirintos da noite em tua grande paz
Dignifique minha mortalidade em tua sombra

Antes do amanhecer solte-me na brisa mais leve
Que possa existir junto as borboletas,
Pois com elas partirei sobre as flores
E descobrirei novos mundos

Imploro-te para que ao libertar-me à luz do dia
Leve-me sempre às asas da razão
Sem o entorpecimento mental dos irmãos mortais,
Leve-me n`uma viagem alegre

Leve-me onde eu possa cantar o lírico em teus braços
Observando o nascer da estrela maior bem devagar
Leve-me contigo ao teu mundo encantado
Onde o sol é desnecessário a vida,


Onde a noite dure apenas o seu tempo
Onde os dias me permitam cavalgar
Em unicórnios aladados na velocidade da luz
Às viagens para os casebres nos sonhos coloridos de onde vim.

Despropósito (?)

Onde me achas a cada dia!?
Nas cidades e ruas que escolhestes para eu caminhar só ao calar-te na tua incerteza da fome e da sede que sabias que desvaneciam também a mim, a tua febre de presença foi a mesma que senti durante tua ausência tão doída em mim envolvendo-me o corpo e a alma numa solidão sem precedentes a levar-me ao mar e banhar-me ao sal das marés lembrando lágrimas soltas por mim em tua pele clara e macia ao tocar teu rosto.

Em todas as ruas e cidades vi teu riso e te senti. Despi-me de meus medos para doar-me a um amor que via nascer iluminado.

Ando do lado de dentro de uma porta fechada por ti, onde o desejo é mais forte que eu. Ao cançar-me durmo sobre as tantas palavras que diziamos e sobre os beijos jogados ao chão com os versos que não me vem sem ti. Estática me vejo a olhar minhas mãos que se cruzam ao lembrar das tuas naquelas noites em que precisávamos do amor que nascia calmamente em nós.

Viestes guardando os segredos e os tantos sentimentos fechados em teu peito a transpassar minha pele morna, privando-me do calor do toque de tuas mãos tão minhas.

Quantas vezes nos demos as mãos na madrugada fria ?
Não tenho medo do que sinto após abrir-me para sua urgência de vida que também é minha.

Sem esquecer-te mergulho nos lençóis contando as horas de te ver sem medo e dando a mim o crédito de mostrar-me sua sem a necessidade de entendermos o que amamos em nós, por que só pode ser de uma imensa grandeza.

Quero cuidar de ti.
Quero-te mais que qualquer coisa que todos os deuses possam oferecer-me

Espere-me. Vou encontrar-te.

Corina Sátiro - 05/09/2016

domingo, 4 de setembro de 2016

Somente Um Querer

Quero os olhos teus a dar vida as minhas  noites insones, quero os sons noturnos aquietados no nosso encontro calmo e preciso;  amadurecido, repleto e completo de poemas vivos, ricos e sem censura.

Quero ao amanhecer deitar contigo nas folhas secas que caem do arvoredo da brilhante e estonteante natureza morta,

Quero tuas mãos em minhas mãos a trocar o tatear e os sonhos pelo abraço sem o insensato medo de amar com todos os quereres, sem limites ou regras.

Quero a energia que sacia a alma e o corpo, o que caiba em mim e em ti sem deixar arestas ou lacunas.

Quero o amor que possa subtituir a beleza do canto dos pássaros que acomodam-se ao ouvir teus passos na chegada.

Quero o amor teu e meu a juntar-se  numa silhueta única que possa esconder a luz fria da manhã deveras pálida da poeira versificada nas linhas do meu velho caderno rasgado e esquecido sobre a mesa,

Quero-te num susssurro límpido aos meus ouvidos surdos de tua ausência.
Quero os lábios que  trazem os beijos que foram guardados

E te ofereço os que guardei com a certeza de serem teus
Quero o teu riso nos meus olhos amanhecidos do puro amor que celebra o mais caro sentimento

Quero o renascimento das horas perdidas nos olhos onde peregrinei e o quase silencioso amor que é teu a plainar sobre a certeza que verás nos olhos meus

É somente um querer

 03/09/2016

Rancho


Eu planto ideias nos relatórios, assim é necessário por minha água e meu pão.

Ah, mas amo mesmo é meu rancho que sequer tem nome.
Não tem luzes nos postes da estradinha de barro onde caminho.

Amo o verdadeiro "bom dia!" do senhorzinho que levanta às três horas para a colheita de legumes e verduras para que sejam enviados à capital,

O romantismo dos violeiros nas praças...

Já plantei idéias de fazer planos.

Agora quero ouvir o vendedor de pães passar vagarosamente em sua bicicleta de casa em casa oferecendo pães quentinhos.

Quero o café fresco.

Em razão da nítida vista dos astros iluminando o céu à noite planejei um nome para o rancho:
"Vale da Lua"...Vale do Luar... Mas já deixei este plano pra lá.

Melhor não ter nome.

O dia ensolarado é o palco num teatro em relembranças da meninice:

Saltar das pedras nas águas dos rios,
gritar bem alto e sileciar em seguida para ouvir minha voz ecoar nas montanhas,

Deitar-me na grama verde e brincar de achar animais nas nuvens estampando e refletindo a natureza no cristalino dos meus olhos.

Expandir meus sonhos,

Ganhar os céus misturando-me as brancas nuvens e aos pássaros migrando para o sul,

Voltar no vento da primavera para olhar as flores que cultivei em junho...

Só.

Corina Sátiro - 02/08/2016.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Subentendido


O carro de fogo quebrou, a estrada estreitou-se no final da vida
O abismo olhou com profundidade
A velocidade de meus pensamentos atônitos

É tardio o meu amanhecer folclórico,
E desmerecido o seu caminhar apático intimidado pelo sentimento desfalecido.

Rumo ao fim da longínqua avenida
Deparando-me com os deuses aflitos
Ao perceber minha psique

Me tomam nos braços e abrandam meu espírito soltando-me ao vento
Agora sou a águia que aguarda o pássaro gigante que ao cantar silencia o mundo

Escastelo-me para não ver e sentir o tempo presente.

Lembrando-me sempre que para tudo há perdão.

Corina Sátiro - 02/08/2016

Sinfonia da Chuva

E o vento nos coqueirais buscarão em nosso nome um raio que acenda o entardecer revelando a fotografia dos teus olhos cheios de mistérios, cílios esvoaçantes e gotas de sal descendo à face tentando confundir inconscientemente minhas indagações.

É notória a impaciência em nossos passos desencaminhando a pressa venosa da insistência que nos abate

Haverá chuva, sim; terá que haver,
Pois não teria a mesma beleza um passeio sob o sol a pino.

Sem as vestes encharcadas da energia que a chuva traz.

Todos se esconderão em seus lares amedrontados com os trovões.  Nós não.

Pois as taças de cristal guardei para o brinde com a doce água da chuva , sem pactos mentirosos, sem juramentos, sem julgamentos. Nada mais... Temos a verdade e assim caminharemos sempre.

Desde bem antes de tua chegada resguardei-me, e mesmo com todo o frio que senti no gelado inverno tive o corpo intocável - diferente da personagem que criei -, fui apenas menina, quase criança precisando de afago.

Foi simplesmente respeito a mulher em mim, pois o amor é limpo e lavado.
Assim será, com gotas de chuva onde dançaremos, onde correremos a bricar.

Pensando bem, a chuva é bem capaz de nos recepcionar com a sinfonia de seus pingos.