domingo, 13 de setembro de 2015

Nevoeiro


Na soleira da porta ainda estou com as duas canecas nas mãos.

Meus olhos abraçam o nevoeiro e rolamos pelo tempo;

Já dizia o poeta: “ O tempo não para!. Não para, não...”

Não há arrependimento, não !

Um dia a soleira quebrará...


Corina Sátiro  - 13/09/2015

sábado, 12 de setembro de 2015

Cantiga de Ninar

Numa noite chuvosa uma estrela no céu sentou-se a chorar.

Seu brilho acanhado nascido de um ventre perdeu-se nas nuvens,

Sumiu num tornado que veio do mar.

Um mar tempestuoso,

Com ondas gigantes!

- Quer me afogar ?

Mãe lua tristonha mergulha nas ondas e põe-se a nadar

Em busca do brilho

Que só uma estrela com luz tão risonha

Podia o mundo fazer acalmar.

Seus braços aflitos pediam aos gritos:

-Tornado, se vá!

Não brigue comigo,

Jamais serei teu castigo

Chegando dos céus, terra e mar.

E não é direito ofuscar minha estrela,

Fazê-la chorar. 

E mesmo sem brilho...

Sou lua minguante,

Eu sempre sou mãe no espaço que é meu!

“Nana, neném” ...


Corina Sátiro – 05/03/2002

 

Casa Velha

Agora sou uma casa

E de minhas paredes os emboços caem

Cheios de histórias

Sou uma casa fechada e cheia de tolas lembranças 

Adiante uma rua e uns poucos raios de sol
 
Os vejo entrar pelas frestas da janela dos fundos

E também pelo telhado partido

Agora sou uma casa velha
Vazia e cheia de histórias
 

12/11/2016

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Aldeia


Passam-se as horas na aldeia onde estreito-me na rede de linho branco do pequenino chalé

Onde o sol batera quente deixando o cheiro da terra mais forte.

Visualizo o horizonte laranja.

Sua presença é tão forte que às vezes ouço seus passos,

Posso sentir suas mãos tocar meus cabelos.

A saudade tem o cheiro da chuva...

A mesma que acompanha este vendaval e não tem

Forças para apagar meus sonhos,

Pois são mais que belos; são mágicos!

Penso na distância e não quero pensar!

Preciso observar o horizonte que aos poucos escurece acalentando a aldeia.

Nos primeiros passos da noite contrasta com um pequeno ponto luminoso no céu.

Talvez seja algum amor perdido...

Quando amamos sem “freios” é natural a perda da direção e do espaço.

A noite joga-se por toda a aldeia trazendo só o silêncio, e eu adormeço sem você.

Sonho com lençóis de seda e frutos maduros.

Ouço a queda d’água na cascata que bate com violência nas pedras e rolam sem direção.

Estou sem direção.

Meu mundo é de água e desloca-se a caminho de um mar solitário.

Tudo é lindo e triste sem você.

Até quando terei que esperar por você?

No próximo ano a aldeia terá índios e uma festa linda,

Cheia de frutos e flores só para nós.

Cantaremos as canções dos nativos para espantar nossos medos.
                                                                                                                                            

Sátiro - 06/09/2015

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Quereres

Quis te procurar,
 
Te molhar com a chuva que desce calma pela madrugada;

Te sufocar com beijos loucos e embriagados de vinho morno.
 
Quis me dar, me achar...

Quis um sol depois da chuva que adentra a madrugada imensa

E escorre lenta sobre minhas pálpebras cansadas.  

Quis te ninar, te mostrar os caminhos do sol,
 
As profundezas dos rios, dos mares revoltos que invadem as ruas

Beijando meus pés descalços.   

Ah, eu quis teus braços! Teus laços atados aos meus tortos passos noturnos!

Dançarinos, meninos, em meus desatinos;

Transviados, marcados pela ausência do meu imenso querer.

Ah, eu queria era viver!

Teus risos doces, cheios de alegria, de vida bandida;

De vida nos leitos, no cais, nas esquinas paradas no tempo.

Quis ver meus sentimentos mais leves que o vento que foge dos litorais

Visitados pelas dunas acinzentadas de maresia.

Quis teus olhos espertos, dispersos,

Mas era tarde e eu já dormia. 

Corina Sátiro – março/2003

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Mágico

                                                                Ele era mágico.

Brincava de inventar sorrisos, porém não percebia

O meu riso discreto de criança encantada que sem querer o acompanharia.


Não conseguia ver!

Por que não via?

 Já me havia levado aos palcos e se mostrado duende, bruxo ...

Ele era mágico.

Será que não sabia?


 Já sei:

 Não conhecia a sua magia,

Porque este saber só era permitido a quem o via.

E ele era mágico e não sabia!
 

Brincava de dançar nos olhos e depois fugia

Deixando a silhueta colorida a marcar sua volta.

Sequer dava tempo aos espectadores para partir.


Amanhecia e ele dormia em meus olhos de criança,

E eu não precisava dizer que o veria novamente.

Ao acordar, certamente me contaria histórias;

Ao acordar brilharia como os vaga-lumes sobre minha cabeça aturdida;


E se pensasse bem, me faria ralar os joelhos quando brincássemos de fugir,

Quando corrêssemos  pelos jardins e praças,

E nunca ficaríamos tristes... Eu não ficaria!


Mas ele era mágico e me excluía,

Porque dos meus sonhos nada sabia!

Da sua magia? Eu sabia.

E ele era tão mágico, mas no meio da platéia não me via.


Corina Sátiro – 30/07/1999

Caminhada de Uma Pessoa Solitária

Vi seus olhos abertos e assustados

Implorar-me a volta dos risos e canções.

Senti sua mão no meu rosto

Implorar um grito.
Mesmo que fosse de guerra... Ah, não !



Mas minha dor era calma

Como o nevoeiro que abraça o prédio mais alto da cidade.

Andei pelos seus sonhos e descobri sua realidade;

Descobri fraquezas enormes.

Ah, meu Deus! Como são parecidas com as minhas!


Olhei a rua vazia, levantei os olhos e segui em frente.

Vi no espaço cinzento uma grande estrela amarela a exibir-se

Como criança pequena que começa engatinhar empoeirando-se na terra.

As horas passam correndo por mim

Caminho em direção ao horizonte vazio.

Lá devo achar alguém.

Corina Sátiro - 01/09/2015