domingo, 23 de agosto de 2015

Catedral

                                                  Ah , Catedral ! Aí estão os santos?

                                                  Vi anjos esculpidos em relevo em tuas paredes amarelo-ouro.

                                                  Têm lindos olhos os meninos anjos.

                                                  Que dó tenho eu dos meninos anjos!

                                                  Observam o pássaro que se recolhe triste e encolhido sobre um fio elétrico

                                                  Num poste bem a frente de seus olhos de gesso quando cai a chuva...

                                                  Ai! Tenho medo que meus olhos tornem-se olhos de gesso!

                                                 
                                                   Corina Sátiro - 02/05/2000

 

sábado, 22 de agosto de 2015

Era Ele?

A noite chega esmagando o dia.

Os pensamentos voam e é sempre bom lembrar quem somos.

E se um dia você sentir dor  levarei o mar daqui;

Levarei o céu que é de todos e não tem espaço geográfico.

 

Está frio aí?

Você dorme bem?

Tomou o café da manhã?

Extasiou-se ao amar alguém?

 

Aqui o inverno já se vai aos poucos.

Deixa a luz para trás e vai assim como quem se perde sem perceber.

E a noite está calma como a lua cheia que esbarra nas marquises

Dos prédios mais altos da cidade.

 

As folhas secas já caíram e correram com o vento como se fugissem... 

E se me esqueço do seu jeito de falar!

Fico a te desenhar nas mesas dos parques,

Naquelas gotinhas de orvalho que a noite esquece de guardar.

 

Eu vi o trem passar.

Não um trem qualquer com o som de um apito qualquer,

Um trem de janelas espelhadas onde seu rosto parecia refletir a vida

 
 

Corina Sátiro - 11/07/2006

Índios

No fim do oceano, no horizonte,  
Cabanas construídas com folhas.
O primeiro andar é do sol traduzindo luz e paz na Terra,
O segundo andar da primeira maré alta.
Passar horas sonhando ou correndo!
Há muito me perdi no convés de um navio pesqueiro, não sou daqui!
E a bravura dos homens fizeram embrenhar-me na mata,
Usei minhas flechas para fincar sementes na terra e não viram!
Indígena descendente que sou...
Minhas raízes fortes têm cheiro de mato.
Eeeei!  Que mar traiçoeeeiro!
Fuçando meus olhos vermelhos!
Que era aquilo?
Revolto e silencioso
A açoitar- me de gotículas que bebem areia...
Ai meus medos!
Sou filha de água doce!


PS.: Nossos anéis escondidos nas asas do cisne branco surpreendentemente brilham lançando raios de luz em tua pele branca. E nosso futuro tem filhos de todas as cores, tem acenos de paz ao mundo inteiro.
 
Corina Sátiro – 02/04/1982

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Homem

Me olha de dentro do casulo.

Resguarde-se

De quê?

Respiro.

Eu quase posso ouvi-lo

Num colóquio sussurrado falando de flores,

Dançando sozinho, vivendo as cantigas de roda

Ora menino, ora cão

Que fareja todas desfilando "nuas",

Experimentando meninas desajustadas.

Vira às avessas, transpassa a retina das esquecidas.

Eu nunca o vejo, nunca celebro sua chegada

Nem pelas tardes, nem nas vazias madrugadas

Onde as viagens são corpos sós e nus;

Desprotegidos, fingidos, maquiados...  

Ele é noite; eu, dia...

Ele é sonho.
 
Parte fantasiosa do meu livro não escrito.

Traçado sem permissão.

 Corina Sátiro – 18/08/2015

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Moinho

Hoje descobri onde fica o moinho.Sentei-me as margens do rio a olhá-lo enquanto as folhas
secas eram arrastadas pela ventania e rudemente arranhavam meu coração, a criar lesões

que posteriormente transformariam-se em cicatrizes que perdurariam algumas luas E o
moinho girava velozmente a esmagar a água agonizante entre seus braços compridos, Sorria ao ver meus olhos embaçados pelo lixo que vinha com o vento que surgira

inexplicavelmente.Acho que adormeci. E ao adormecer senti meu coração ser arrancado
pela escuridão e esmagado pelos dentes que vira gargalhar e esmagar as águas do velho moinho.

Doeu.
Perdi meu coração ás margens do rio assistida pelo furacão do ódio que teria sido soterrado
pelo tempo corrido.Avassaladora ventania a levar sonhos, A soterrar meus pés que

afundavam na lama de lágrimas misturadas a terra e ao horror. Então ouvi meu choro a
jorrar lágrimas para dentro da alma esguichando sem direção toda a minha alma

Virando orvalho seco.
Moinho envelhecido, moinho antigo e petrificado

Por que encantei-me com as histórias dos moinhos?

E cobri o rosto com as mãos geladas, assombrei-me!
E corri pela relva a procura do rancho,

Do canto do rouxinol, assim viveria para sempre.

Corina sátiro - 05'10'2014

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Marinheiros

Os baderneiros seresteiros eram  homens marinheiros

A tocar clarins no cais

Viajantes desprezados por  sereias, belos seres encantados

Por dom dos deuses, assexuados, sem poder acasalar

Os baderneiros seresteiros eram homens marinheiros

A tocar clarins no cais.

Viram noites, viram dias a destoar as alegrias

De quem vai remar no mar

Pelos olhos das sereias que desnudas se bronzeiam 

Choram, cantam, desnorteiam.

São os mártires dos sonhos, e às moças que os querem:

Seus túmulos serão no mar.

 
Corina Sátiro - 07/03/1980

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Espelho


Um ruído na noite interminável.
Um espelho quebrado e o medo de olhar;
Um medo de ver meus eus estilhaçados,

Refletidos dentro das poças de lama.

Muitos eus! 

Alguns brincando no jardim de minha infância, 

Outros dançando no inferno.
Alguns invadindo teus olhos dispersos.
Meus eus atrevidos, mal vestidos...
Eram cuspidos logo em seguida por um eu sufocado de medo.
Durma minh`alma, não os queira ver!
Eus miseráveis.
Outros eus?

Lá vão eles de mãos dadas cercando exércitos,

Atirados à guerra milagrosa.

Deveriam ser solidários com a morte!

Num grande teatro
Gargalham na platéia,

Sobem ao palco e viram palhaços!

Brincam, brincam, brincam, brincam!
Abraçam os meninos atores no final do ato,

E sem que se perceba somem pelos grandes corredores.

Corina Sátiro - 10/06/2005