sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Catedral


   Olhem a Catedral.  Aí estão os santos?
   Vi apenas anjos esculpidos em relevo nas paredes amarelo      ouro.
   Têm lindos olhos os meninos anjos.
   Que dó tenho eu dos meninos anjos.
   Observam o pássaro que se recolhe triste e encolhido sobre    um fio elétrico
   Num poste bem à frente de seus olhos de gesso enquanto          cai a chuva.
   Ai! Que medo tenho de ver meus olhos transformaren-se          também nesses olhos de gesso.



    Corina Sátiro – 10/03/1996

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A Consciência Espiritual

Sempre venho de  dentro e amo algumas coisas que vejo aqui fora
Amo meu corpo moreno doado a mim ao nascer e dele cuido para o meu bem viver
E quando aqui do outro lado, vendo as coisas -  de  fora para  dentro - não as vejo em alguns
Tenho pena de não poder ver as crianças levantarem-se  orgulhosas de si mesmas nas manhãs ao olharem aqui fora algumas coisas (crianças aprenderão olhar tudo se as ensinarmos)

Vejo os caminhos longos nos passos infelizes das almas que nada olham
Contudo, compensa-me viver a minha natureza
Um dia o arrulhar de pássaros azuis
Noutro dia o silêncio no piano calado na sala para que eu possa ouvir o rouxinol

Abracemos os vales verdes enquanto há tempo
Perdoemos os erros mortais - os de dentro e os de fora
Licenciem-me para adentrar meu eu agora
Pois já anoitece e não me vejo aqui fora

Sempre venho de  dentro...
Que adentre a mim as coisas de dentro, não às de fora
Sei bem o que é a beleza infinita das coisas ao olhar
Algumas pessoas de fora para dentro através de suas almas que passeiam

Se viesse de dentro de todas pessoas esse amor...
E se olhassemos todos de fora para dentro?
Atentem-se para  as coisas de dentro
Respirem, filtrem o que nos doam os arvoredos e o devolvam ao tempo lá fora


11/12/2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Sem Palavras


 

A chuva desceu na luz dos olhos.

Nasceu um arco-íris e explodiu em cores no ar !

Perdi as palavras.

Perdi o sono e meu lugar na calçada.

Você passou tão longe...

Pensei que podia sonhar,

Mas a luz dos olhos ofuscava meu tempo vazio

Sem dor,

Sem ilusão.

Não quis dizer adeus.

Não disse nada.

Apenas observava as cores do arco-íris

Que faziam-se e  desfaziam-se à minha frente

Como se brincassem com minhas incertezas.

Posso ter você mesmo assim.

Tenho seus olhos me olhando de manhã.

  

Corina Sátiro – 05/02/2000

O Lago

A vontade do lago verde cheio de cisnes e gansos

Era ter teus pés alcançando suas profundezas  

E com o vento refrigerante que nos beija suavemente

Chega o som de um violino quase atônito aplaudindo a eclosão das flores

 

Esses olhos de seda em mim ...

Sei que a dilatação de minhas pupilas não é por falta de luz

Posso afirmar que descobri em ti o sol de  todos os dias

E os anjos invisíveis me presenteiam com a paz todas as noites

 

Pasmo a olhar quanta felicidade há nos espelhos d`água

Aos invadir tuas vestes abrindo caminhos, descobrindo teus anseios,

E minhas pupilas dilatam-se ainda mais observando-o

Minhas emoções se refletem no teu doce olhar que me percebem a emoldura-te  

 

Nossos anéis escondidos nas asas do cisne branco

Surpreendentemente brilham lançando raios de luz em tua pele branca

E nosso futuro tem filhos de todas as cores, tem acenos de paz ao mundo inteiro.

 

Corina Sátiro – 24/11/2006

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Antes do Fim

Ele foi atirado aos leões

E estraçalhado gritou, acho que foi o último grito na arena.  (espetacular!)

Talvez tenha sido o final de dois gladiadores hostis,

Olhou o céu chuvoso e correu adentrando os labirintos contemporâneos, a fugir da decência.

A dor era visceral!

Ouviu a voz da deusa que o negociou

E o valor era bem menor do que havia sido pago ao adquiri-lo.

Seus dotes eram razoáveis, sua enfermidade o desvalorizava...

Seus dentes rangiam e mastigavam a febre.

Coração comprimido, arrancado pela boca com mãos insanas guiadas pelo cérebro adoecido da dama em chamas.

- Compramos e vendemos pessoas?

- Leiloamos pessoas?

- É lícito isto? Diga-me Senhor!

Seria o triste assassinato do meu eu lírico ao ouvir?

Vociferada fora a dor em silêncio e somente meu eu a ouviu.

“Vendam o gado!”

“ Comam gado!”

“ Arrastem-os para os seus leitos e os comam dormindo!”

Era o pesadê-lo!

O fim da “guerra fria.”

Ao cobrir meus ouvidos com as mãos,

Cá estou eu a brilhar de dor.
 

Corina Sátiro – 28/10/2015

domingo, 27 de setembro de 2015

O Tempo

Vemos a vida por lentes diferentes.

O passado e o futuro disputam seriamente a overdose de medos, ansiedades e

lentidão da passagem dos dias.

Passado e futuro:  perfeitos.

Sabem exatamente a que horas o sol desponta quente ou frio no horizonte;

Não, não nos adiantaremos em nada!

Passado e futuro confundem-se no presente.

E o meu presente é inabalável.

Está aqui, ali, acolá... 
 
É difícil me ver no passado e vejo me arrastada ao presente.

Pretérito perfeito!

Eu amei, tu amaste...

Vemos a vida por lentes diferentes.

Versos caem no túnel do tempo, desdobram se no passado,

Porém, permanecem preservados no presente

E continuarão assim, deste mesmo jeito no futuro.

Estarão em algumas bibliotecas virtuais

Encantarão algumas pessoas, talvez sucumbam em labaredas.

Ah! Os caracteres do fogo!

Empunharemos nossas espadas e nos faremos presentes

Jamais morrerão de fome da leitura dos que os desconhecem

Por não terem tido tempo

Passado, presente, mas nada direi eu por eles no futuro

Está tão distante 

Que Deus esteja presente em nós

Onde é que está O Deus?

Gostaria se pudesse Vê-lo...

Sinto-O somente, e só.

Suas verdades são apenas suas!
 
Todos terão suas verdades, e ainda que mentirosas

estarão escritas.

Ai do que falo se também menti no passado e ainda ando a mentir para minha lente

que nos vê no futuro antagônico

Vemos a vida por lentes diferentes.

 

Corina Sátiro – 26/09/2015

 

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Pensamentos Ignorados

Coração é o nome de uma imensa rocha flutuante que gira no céu e interioriza-se em nós.
Grãos de areia que formam ruas e desertos endovenosos em nossos pés
Que seguem em frente somente.
Filhos do mundo, teus olhos são demasiadamente grandes!
Quero poder amar e vêlo-los brilhando todas as manhãs, e  assim caminharei iluminada pelas galáxias.
Por todas as espécies tenho chorado e já perdi noites de sono girando ao redor de mim.
Não quero observá-los assim!
O véu da noite cairá sobre todos em um dia inesperado,
O pôr-do-sol não mais veremos.

Cegueira!

Não nasceremos todos os dias, filhos do mundo!
Quebraram o renascer por esta inobservância.
Vejam as leis da vida real.

Ora, é sabido que tenho instinto materno, e choro, choro...
Vivo a acolher filhos de toda etnia em meus braços de mar e terra;
Filhos de braços de mares,
Filhos de grãos de areia...
Protejam-me da explosão lunática de tuas cabeças,
Guardem meus lençóis azuis bailando no arco-íris...
E na véspera da chuva que sairão de nossos olhos, morreremos!
Guardem meus lençóis do arco e da flexa!
No mais, acho que não sou daqui.

E a Terra gira, linda e soberana Mãe!


Corina Sátiro - 19/06/2003