quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Feridas

Bem aquém estamos para ferir.
Somos pacíficos!
Mesmo aos que nos iludiram com festas, com risos e promessas.
Podíamos, com fome,  largar umas palavras afiadas à nossa língua torta e inerte
E aos seus ouvidos “surdos”.
Podíamos gritar, gritar, gritar... (#%¨*¨$#”>>¨¨#*)
Não, não!
Estão longe para ouvir-nos!
Tingidos de mentiras, usando nossas cores
Verde, amarela, azul e branca em viagens por esse mundo tempestuoso.
E nossas cores e meninos?
À beira do caos.
Antes arrancassem os ventres de mães e pais...
Ninguém mais atravessaria as pontes para tentar enxergar nada!
Nenhum número;  nem dois números, nem três...
Nenhuma criança a morrer de fome!
Nenhuma criança a roubar,
Nenhum menino a desejar um fuzil
Já que nas costas carrega a dor às margens da sociedade.
Bem aquém estamos para ferir.
Somos pacíficos!
Seremos sempre pacíficos !

Corina Sátiro – 10/07/2015

domingo, 9 de agosto de 2015

Atos

Meu pequeno príncipe, não preciso de sábios momentos.
Não os gravo em minha memória curta e desajustada.
O quê me dizias mesmo de tuas madrugadas?
Das minhas tenho os guerreiros que lutam por minhas pernas bailarinas,
Quando me deito como criança e desperto adulta.
Uma louca tal qual aquelas que acharias nos cabarés;
Que vira e revira seus atos (falhos?).
Te deixa morrer com o desejo encoberto pelas flores que recebi do cavaleiro andante.
E na noite que morre me aconchego nos braços da armadura de ferro.
Meu grande príncipe, nem tal armadura tiraria minha candura
Ou meus olhares escaldantes que te observam mortificados nas camas alheias.
Onde te achas ou te perdes de ti,
Nasces ou morres para mim.
Não te tenho amor,
Mas minhas pupilas dilatam ao toque dos teus dedos.
Dos meus dedos já caem as unhas quebradas
E canto como sereia perdida nos rios doces a procura de um mar.
Tu te afundas ali em tais rios ao ouvir meu canto,
E te encanto por um só dia nalfragado em nós.
Então tu conheces meus atos,
Falhos ou não.


 10/03/2004

sábado, 8 de agosto de 2015

Silêncio

O  Silêncio tirano exclui meus risos quando estes não poderiam fazer parte
De tudo o que posso adquirir com as visões que me vem de dentro da solidão de hoje  
O  oculto e o ocultismo chegam quando as palavras calam
E minha morte é quase  vista em suas tolices.   
Quão tola é a morte quando a vida sobrepõe-se num grito que ecoa.

Vãos  de escadas - mais pareço.
O  silêncio é o peso abstrato que mais  pesa em minhas costas doídas,
E ainda assim os olhos me fecham e rio de mim,
Solitariamente rio do fim que acaba sem começo!
E sorvo o café enquanto observo a peça de louça branca na mesa vazia.

Não vá medir-me a distancia!
Calcule o tamanho imenso da sóbria embriaguez
Que me açoita no início da noite
Quando olho a vida com cara de quem a conhece em sua plenitude...
Quanta tolice!

Diante do tirano silêncio dobramos nossos joelhos
E vimo-nos cair em prantos...
Já não é hora de dormirmos?
O silêncio mata os sonhos.
E enquanto dormimos o sentimos falar, falar, falar...

05/07/2006


Quereres

Quis te procurar,
Te molhar com a chuva que desce calma pela madrugada;
Te sufocar com beijos loucos e embriagados de vinho morno.
Quis me dar, me achar...

Quis um sol depois da chuva que adentra a  madrugada imensa

E escorre lenta sobre minhas pálpebras cansadas.  
Quis te ninar, te mostrar os caminhos do sol,
As profundezas dos rios, dos mares revoltos que invadem as ruas
Beijando meus pés descalços.   

Ah, Eu quis teus braços!

Teus laços atados aos meus tortos passos noturnos!

Dançarinos, meninos, em meus desatinos;

Transviados, marcados pela ausência do meu imenso querer.

Ah, eu queria era viver!

Teus risos doces, cheios de alegria, de vida bandida;

De vida nos leitos, no cais, nas esquinas paradas no tempo.

Quis ver meus sentimentos mais leves que o vento que foge dos litorais

Visitados pelas dunas acinzentadas de maresia.

Quis teus olhos espertos, dispersos,

Mas era tarde e  eu já dormia. 

 

Corina Sátiro – agosto/2015

 

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Menino (homenagem póstuma ao meu irmão Jorge Sátiro )

O meu menino moreno de olhos serenos
Já foi-se embora.
Deixou-me somente a cidade,
As luzes do parque, e uma dor tão doída...!
Saiu durante a madrugada
Pisando na vida, visando as calçadas;
Jurou que não mais voltaria e foi entregar-se a vida vazia.
Vida vadia... de bares, de copos, de bafos;
De choros e chorinhos.
Que menino mau!

O meu menino do peito partiu
E deixou-me sem graça e sem jeito.
Correndo pela noite adentro sem rimar a vida
E os versos cinzentos.
E agora a passarada do parque
Reclama comigo as mesmas migalhas
Da melodia que tanto me falha.
Que menino mau!

E o meu olhar tão cansado
Atira nos versos um bom desagrado.
É culpa do meu coração
Que não quer,
Que não pode,
E não vai ser em vão.
Que menino... menino.

 
Corina Sátiro - 04 de maio de 1986

Aplausos

                                                      
Esta é a aura que tenho na simples condição de criatura.

E você me vê aqui no palco em meio aos holofotes sob as luzes.

Não vê que não há palco, criatura?

Obstáculos em círculos nos separam os fragmentos doloridos.

Neste momento vejo-me como a criação do Messias, não como criadora de nada,

E vejo as variações dessas formas criadas.

Todas férteis, aflitas, sorridentes;

Todas fustigadas, de encontro a fadiga - mas, só.

Aplausos para as caricaturas desenhadas quando todas as vozes se distorcem

Num eco estridente, assustador e comovente.

A bala entrou no coração doente, 

Bem no meio do peito!

Esta é a cena no cenário sujo.

Criaturas criando versos.

Em meio ao cenário sujo...

Meu submundo no camarim. Isto ninguém viu! 

Julho de 2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Flores Mortas

Os ventos gélidos derrubaram o vaso cheio de flores
mas foi somente um vaso a quebrar-se
Outrossim,  as flores já não respiravam mais

Eu tinha coisas na mente vazia
Quem tem a mente vazia ouviria como a um trovão,  mas...
Foi somente um vaso a quebrar-se

O florista arrancara o coração das flores, pois naquele dia deveria levá-las, todas
Era dia de enfeitar todos os aposentos, assentos, conventos, igrejas para casamentos...
 
Que importância há na simplicidade de um vaso com flores mortas a quebrar-se?
E eu tinha pouco tempo
Corria, corria... Mas a mente vazia...

Colho as flores mortas e preparo o funeral
Enquanto chora o florista, o jardim, o jasmim... Não sabiam do tal acontecimento!
Por que tanta tristeza?

Foi somente um vaso a quebra-se
E as flores
Não respiravam mais

20/12/2016