sábado, 6 de agosto de 2016

Ontem

Minha auto-homenagem ao entardecer prende-se ao fato de ter estado
Contigo.
Rio, canto, danço... Pinto os lábios, solto os cabelos e viajo em ti sem Rumo algum
Reflito sobre o teu jeito de me olhar e abraçar, parecendo um peixe
Serpentiforme e escorregadio...
 
Meus ouvidos te ouvem como música que sai de uma flauta verde e Doce, respectivamente de um estúdio e pelas ruas da cidade onde todos Caminham para a luz
 
O que tens nos olhos que tanto me desorienta?
Me flameja a alma onde labaredas gigantes aquecem as vidraças frias
Deste inverno louco?
 
Não; não há necessidade de respostas, pois sei que tu também não Haverias de saber.
Senti teus sonhos nascendo ao alvorecer (lembra-te?),
Senti tua beleza, não tão somente nos olhos, e sim,  nas palavras que Saiam da tua boca e me contornavam a cabeça - também como música
 
Saíamos daqui desta Terra e nos encontrávamos num céu iluminado Banhando a cidade inteira de luz... Éramos tão livres do Mundo.
Viagens incontáveis fazíamos em nós
 
Tão bela quanto tuas mãos brancas que moviam-se entre os cachos Loiros do sol em meus sonhos era a vida que tínhamos:
Bela! Bela! Bela!
 
Ainda ontem, viajando sobre as linhas do trem, pude rever as paredes
Dos prédios, as crianças nas calçadas... Enquanto meus olhos Permaneciam atrelados as horas em que te senti em total plenitude 
 
Percebi então a necessidade de estar sempre em teu colo, de ter tuas mãos ao alcance das minhas, de estar em teus sonhos
E aquele cheiro de café pela manhã ainda anda impregnando minhas narinas
Por que existe a distância entre nós?
Por que não nos desmaterializamos  para nos achar sorrindo dentro das veias de quem amamos? 
    
05/11/2006
 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Talvez

E agora?

Procuro o céu e não o encontro lá fora.
Por vezes acho que não foi o céu quem sumiu...
Talvez tenha caído, como caem os anjos rebeldes;

Por vezes estou apenas só e meu espírito foge por aí como um desertor com a imponente cara de brisa leve que reaparece somente pela manhã a brincar nos giros dos furacões.

Tão deserta quanto o mundo apocalíptico, tenho o corpo coberto pelo fogo, pelas chamas que gritam em meu silêncio irrequieto.

Somos caminhos cobertos pelas areias das dunas quentes a suplicar:
Oh, estrelas cadentes, não resfriem este mar!
Nem queimem as areias da praia deserta ou das dunas brancas onde caminho presa às ilusões que crio e recrio a cada dia, mês, ano, minutos...

Perversas e infinitamente lindas são as estrelas cadentes que nos fazem percorrer seus trajetos alucinantes mesmo quando não há céu a ampará-las.
Perversidades tão mansas e sutilmente queridas por minha pele-oca de onde caem meus sonhos amedrontados e inquietantes.

E somente dormirão meus olhos quando assistirem ao eclipse total do anoitecido e o amanhecido em mim.
 

Corina Sátiro – 24/07/2016

sábado, 16 de julho de 2016

Planícies

Estava olhando as montanhas e vi teus olhos  em lágrimas desabarem com a fria chuva.

Revirei meus sonhos e vi a montanha em silêncio chorar lágrimas de verões verdes como teus olhos...

De joelhos ao chão fiz a última abordagem ao clarão dos olhos da tarde em despedida ao vale:
Por que tudo se vai? Respondá-me! 

E repetidas vezes pedi:

Não, não despeça-te de meus verões e nem me deixe aqui na chuva fria...


Não, não despeça-te das montanhas altas e refrescantes para os deslumbres das planícies sólidas e secas onde os romances morrem sem sequer terem sido vividos.


Oh, criança, nada posso ver além da chuva que cai agora marejando meus olhos!

Oh, criança, talvez este cobertor escuro que a tarde estendeu aqueça-nos a alma, então...


Então, esqueça-te das planícies e volte a dormir.

Pare de andar de um vento ao outro. 
Agora a chuva já caiu, já afastou-se;  estou aqui.


Não, não despeça-te das montanhas altas para viver o calor das planícies! Adoeceria-nos !

Pense. 

Vi teus olhos marejados da chuva fria e pude secá-los quando já havia frescor nas montanhas.


Lembra-te dos rios onde nadavamos na falta do mar? Na montanha não há mar. 
Por que não há mar? Pergunto-me sempre.

Nossos rios...

Lá estão eles com suas águas mornas, porque o sol ao cair,  lá fez moradia.

Então, esqueça-te das estradass e das planícies e voltemos aos rios a nadar onde mora o sol.


Não, não despeça-te de meus olhos marejados de medo!
Serei o nada a morrer na chuva,


uma alma alma perdida a dançar na fria solidão das montanhas sem luz.


Sempre é tempo de viver! 
Não morrerei nunca!
Jamais, mesmo durante as tempestades com neve caindo aqui...


Não, não me deixe aqui sozinha na chuva fria sem teus verões de olhos de pura luz,

porque posso partir sem ti e virar "coisa "sem alma.

Alma  que estará sempre a caminhar sob o nada.u

 20 /11/2015.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Andanças

Se eu soubesse por onde ando não me sentaria na beira
da estrada mirando o horizonte a procura do sol
Se eu soubesse olhar o que olha...
Se eu soubesse que meu coração está demasiadamente vivo
poderia tocar o céu com as pontas dos dedos
e não me surpreenderia com o grito do povo da terra que canta comigo
Quando sopramos lavas fumegantes sobre minha
alma nua e perdida
Avessa e descrente estaria eu de tantos olhares que me atiram versos mudos todos os dias?
Questionarias o olhar do infinito tanto quanto eu ?
Chorei na véspera do ensaio com o lume dos olhos anoitecidos a beira mar de onde também correríamos a desvendar mistérios...
Mistérios derramados na areia e no impalpável
que permeiam-me os dias atuais
De quem são os olhos que te guiam agora pelas estradas
onde caminho tentando me encontrar sem medo ?
Diga-me há quanto tempo segues por estradas que desconheces ?
Por que nos vemos admirando o mesmo horizonte
que nos parece tão próximo desta estrada que cruzamos ?
Me dê suas mãos para que possamos alcançar o céu e tocá-lo
com as pontas dos dedos.


 05/07/2016

sábado, 18 de junho de 2016

Medo


Os rios transbordam meus medos na primeira queda d` água,

E as luas que me veem

Dragam meus sonhos engolindo-me a vértebra, fazendo doer os nervos.

Minha solidão é fruto de minha imaginação fertilizada por tua imagem

Notória e veloz, muda como as ruas

Onde caminho só sob o céu em total abandono.

Há um monólogo onde falo dos temores que habitam minha alma.

Abro meus olhos e me pergunto: sabes onde estás?

Mas que melancolia e essa que chega com as lembranças?

Penso também que posso saber mais sobre a diversidade dos caminhos...

Não quero saber sobre os teus caminhos.

Pergunto-me quais seriam os meus e me basta.

Por quanto tempo ilusoriamente ainda trarei às lembranças

Os teus olhos observando as barcas que atravessam o mar?

Ou ainda, as tuas mãos brancas deslizando sobre uma folha de papel

Deixando-me um poema pela manhã

 

Corina Sátiro – 05/03/2000

terça-feira, 14 de junho de 2016

Incertos


Todas as incertezas te cabem mal
E não é pertinente perguntas sobre isto

Não há o que refletir, proteção tens sobre minha instabilidade de humor


Não há mais noite e nem dia
Não há calor
O frio é perceptivo e doído


É visto como espada que corta sem piedade dedos e ossos de uma carcaça insana
Quando foi tua última noite dormida?
Quando foi teu último beijo na face do irmão desta enfadonha dor?


Não me fale do medo que tens... 

Sabes o que é arrepiar-se de pavor ao ver o dia raiar ou a noite que cai?  Não; não sabes.
Quem sabe?! Ninguém


Nada mais tenho, o que tinha já doei
Em nada posso crer agora.
Então, deixe-me arder na febre a mim imposta


Deixe-me só com minhas perguntas tolas, porque cabe somente a mim ver a poesia nesta lamúria infinda
Cá está o amor que não é perceptivo,
Cá está a profundeza do globo onde caem meus olhos deixando as pálpebras fechadas e para trás

Saía e apague as luzes
Enxergo minha solidão na impaciência que me corrói sem esperar nada do tudo e o tudo do nada


Não me queira mal neste momento
Não me toque
Despreze-me, é simples

Não finjas nada

Desnecessário é o teu ficar comigo
Há sempre um desenlace compreendido por mim, pois meus caminhos são tortuosos e ferem

É quase hora da morte dos sonhos
Não fique sem rumo quando eu desistir de beber da água retirada do lago onde mergulhas.
Não te entristeças


Veja-me apenas como uma das estrelas que se apagam no firmamento.
As outras lá permanecerão a brilhar para o mundo em em teus olhos.

Corina Sátiro - 08/07/2016

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ilusionários

Estico-lhe os pulsos, mas não me prenda! 

Faça valer o que é justo
Não me encarcere
Sou bicho solto, a embrenhar-me nas matas, a fugir dos amores aflitos
posto que sou inocente e nada mais

Saio agora e deixo todas as luzes acesas para que vejas o mundo a passear nos teus olhos sem mim.
Estico-lhe os pulsos, e se quiseres me cuspa na cara, mas não me prenda...

Não me encarcere!
Sou inocente tanto o quanto o teu espreguiçamento
Ao acordar para um novo dia ou noite
Viva intensamente e deixe-me ir

Sou bicho solto, de embrenhar-me nas matas sem tormentas, onde tudo é silêncio e paz
Não me sacie, pois posso entrar na vulnerabilidade humana
Sou composta de silêncios e verdades

Sou apenas o frágil bicho solto e selvagem, nada mais
Estou desarmada e cheiro a flores d'onde vim... Vivo de amores lúcidos 
Não vou te subornar com um olhar tristonho
ao te mirar e virar-me à fuga - seu tudo -, não devo ser...

Estico-lhe os pulsos, mas não me prenda! Óh, não...
Não me encarceres em tua inefável singularidade!
Entenda que meus sentidos aguçados não me falham, posso tudo sentir e ver

Posso tudo compreender, mas não posso esquecer tudo...
Não me enjaule simplesmente para seu bel-prazer
Sou bicho solto a discorrer

01/08/2016