quarta-feira, 1 de junho de 2016

Ilusionários

Estico-lhe os pulsos, mas não me prenda! 

Faça valer o que é justo
Não me encarcere
Sou bicho solto, a embrenhar-me nas matas, a fugir dos amores aflitos
posto que sou inocente e nada mais

Saio agora e deixo todas as luzes acesas para que vejas o mundo a passear nos teus olhos sem mim.
Estico-lhe os pulsos, e se quiseres me cuspa na cara, mas não me prenda...

Não me encarcere!
Sou inocente tanto o quanto o teu espreguiçamento
Ao acordar para um novo dia ou noite
Viva intensamente e deixe-me ir

Sou bicho solto, de embrenhar-me nas matas sem tormentas, onde tudo é silêncio e paz
Não me sacie, pois posso entrar na vulnerabilidade humana
Sou composta de silêncios e verdades

Sou apenas o frágil bicho solto e selvagem, nada mais
Estou desarmada e cheiro a flores d'onde vim... Vivo de amores lúcidos 
Não vou te subornar com um olhar tristonho
ao te mirar e virar-me à fuga - seu tudo -, não devo ser...

Estico-lhe os pulsos, mas não me prenda! Óh, não...
Não me encarceres em tua inefável singularidade!
Entenda que meus sentidos aguçados não me falham, posso tudo sentir e ver

Posso tudo compreender, mas não posso esquecer tudo...
Não me enjaule simplesmente para seu bel-prazer
Sou bicho solto a discorrer

01/08/2016

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Acordar Para O Tempo

Esqueçam as datas e lembrem-se: o tempo é inexistente. Nós o inventamos. Vejam que nós mesmos inventamos as lembranças, portanto elas diferem-se umas de outras. Não lembramos igual a outras pessoas.
Temos distorções cognitivas?
Nesta infinidade de lembranças até mesmo imagens rememoradas têm cores diferentes -  sem cores primárias ou secundárias.

Bem como o tempo o medo é inexistente. Nós o criamos por não acreditarmos no que a vida nos trará de belo, e se nos vemos em situações complexas e difíceis abandonamos a descoberta por não acreditarmos em nós mesmos. Não vá dizer que o medo é do outro.
Esta descrença nos leva ao inimaginável: abandonamo-nos também. Atribulamos nossas mentes que são livres e criamos atalhos em nossas vidas, raramente partindo da saída e nos embrenhando sempre na chegada.
Acordemos para o novo! Sem atalhos e sem o medo inexistente que nos prenderão as meias-voltas.
Fiquemos cientes de que podemos escolher os caminhos, e que com os caminhos que escolhemos podemos iluminá-los ou obscurecê-los, podemos sorrir ou chorar; e ainda, podemos mudar nossas vidas com o crescimento e a sabedoria a cada novo dia. Acordemos cedo ou tarde, mas acordemos.
Não tente descrever o que seu semelhante vê, só ele sabe, e nossos olhos são iguais em termos de observância, mas no que vemos verdadeiramente... Impossível saber.

 Corina Sátiro – 19/05/2016

quarta-feira, 27 de abril de 2016

SONATA


ASTROS AFIXADOS NAS PAREDES DO QUARTO VAZIO
ACORDAM E REFLETEM LUZ PRÓPRIA EM MEUS OLHOS.
TE VEJO INFINITAMENTE FELIZ E FELIZ ESTOU.
LÁ FORA AS BARCAS ABRIGAM UMA NÉVOA SILENCIOSA DESCENDO SOBRE O AZUL DO MAR.
É O PRELÚDIO DE UM INVERNO FRIO E TEMPESTUOSO
QUE NOS LEVA A CONHECER A SOLIDEZ DA SOLIDÃO.
PIRATAS QUE ME LEVAM, ICEM AS VELAS!
E NO FRIO DAS ÁGUAS TURVAS ANUNCIEM OS DESARMADOS E PATÉTICOS POETAS QUE ME INSPIRAM E ACOMPANHAM.
FAZEM CRER QUE TEREMOS O FUTURO BLINDADO DE FLORES, POR QUE ASSIM O VEEM.
NÃO SABEM FALAR, MAS FAZEM CRER QUE TEREMOS O FUTURO BLINDADO DE FLORES!
NÃO SABEM OLHAR, MAS VEEM COM OS OLHOS MIÚDOS DAS ÁGUIAS.
ISTO ME ENCHE OS OLHOS DE ALEGRIA E ESPERANÇA,
INVERNAMOS EM POESIAS E SONATAS INVENTADAS NA SORTE.
PIRATAS QUE ME LEVAM, ICEM AS VELAS!
TE VEJO INFINITAMENTE FELIZ,
E PERGUNTO-ME SE FELIZ ESTOU.
 
SE TODOS SOMOS FANTASMAS DE PIRATAS DE NAVIOS NEGREIROS NÃO TEREMOS UM FUTURO BLINDADO DE FLORES. SABEMOS QUE POETAS SÃO MENTIROSOS.
 
Corina Sátiro– 26/04/2016

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Reticente

Reticente

 
Deixe-me beber contigo.

Se já bebemos tantas palavras haveremos de beber juízos.

Bebemos palavras sem vírgulas, dois pontos, ponto e vírgula, reticências...

Vê! Me emprestastes alguns acentos.

Me emprestastes aquele sorriso com gosto de  água cristalina,

E além de palavras bebidas, sussurros impensados e cheios de beleza.

Deixe-me beber contigo todas as palavras ditas às avessas.

Deixe-me inventá-las na madrugada enquanto a noite assume sua postura de senhora,

Enquanto dormes.

Estamos no contexto.

Se quiseres,  grite bem alto.

Mas há que se dizer que palavras são sensíveis e podem não suportar

Sua própria insensatez.

Verbalize-as com recheio de rosas.

Eternize-as.

Esqueça-te do ponto final.

 
Corina Sátiro - 14/04/2016

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Paisagens


Hoje corri pelos campos

Com os mesmos sentimentos das crianças.

Vi  flores amarelas cantando e arremessando suas pétalas ao azul celeste

O sol reflete nas folhas de urtiga

Que brilho e esse, meu senhor?

 

Cadê você?

Cadê você?

Cadê você?

 

Tenho uma rosa branca para te dar

Tenho folhas de urtiga para o chá

A nuvem não é branca

O céu sumiu

Mas não é chuva

O Mundo levitou no eterno espaço

 

Cadê você?

Cadê você?

Cadê você?

 

Tenho uma rosa branca para te dar

Infindas ruas para caminhar

A bolha estourou

Braços tenho pra te buscar

Que tal não chorar?

Vamos sonhar

 

Corina Sátiro – 03/04/2016

quarta-feira, 30 de março de 2016

De Tanto Amor

De tanto amor
Me despi do envólucro e rejuvenesci anos-luz
De tanto amor


Cantei, cantei, cantei...

De tanto amor
Ainda canto
De tanto amor canto mais alto

E chego agora fora de hora porque tu não estás mais
De tanto amor
Fundimos nossas almas pra sermos apenas uma

Afoguei-me em teus olhos quando chorasteEngolindo lágrimas minhas e tuasDe tanto amor

Roubei-te a luz dos olhos que a mim iluminam pelas noites infindáveis
De tanto amor
Tive sede e então bebi teu gosto doce


E toquei teu corpo livremente
E provei teu gosto 
Enquanto nos sentiamos todas as portas se abriam na brisa e no vento


De tanto amor
Já não percebia meus medos e desenraizavam-se os teus
Já descobria teus segredos únicos e persuasivos


E te sentia dentro e fora do ventre
Amordaçavas-me
De tanto amor...


Céus, então torturei-me ao deixar-te na estação 
Ainda assim te busquei em todas as horas das noites e dos dias
Ainda te busco entre as folhas secas do meu jardim


Para ser meu amor sempre 
E para sempre 
De tanto amor


Esmurrei-me, acendi,  apaguei
Que amor e este?
Se me transforma e transtorna


Redemoinho destendendo-me nervos
Para a morte de todo o sentido num forte gemido de prazer e dor
Nao sabemos que amor é este


Orgástico e desastroso
De tanto amor
Enfim adormeci para acordar-te

Corina Sátiro
 

sábado, 26 de março de 2016

Horas Retrógadas


Queimo a língua em labaredas e digo que

Nem todos os mortos são hostis.

Na agonia do limbo seco e sem flores te dão as mãos

E sem entendimento desvencilham-se dos caminhos iluminados.

Pés plantados nos raios de luz e na lama gelada do pântano...

Sentemo-nos para ouvir o coral angelical que brilha ao meio-dia.

Mentiram. Isto não é o limbo!

Fecharam as celas.

Os carcereiros nos limitaram o espaço, o tempo e o conhecimento.

Atiraram-nos dentro desta esfera sem luz e nos envenenaram com mentiras.

Puseram cicuta em nossas bebidas.

Nossa única sorte é a subsistência.

Sairemos deste tétrico lugar.

Inspiremo-nos na lagarta. A metaforfose.

As respostas!

As verdades!

As malditas palavras soltas sob minha testa não me respondem nada.

As cordilheiras gemendo no frio calmo que nos levam e trazem lembram-me

Que emergi do inferno trazendo em cada mão um punhado de diamantes brutos.

A estas horas envelhecidos estão e de nada me valem.

Arruinei-me ao contar com o relógio

As horas se foram levando resquícios das palavras soltas sem nenhum propósito

Ignoro-as tentando dizer-me algo que ressuscite-me.

Adormecidas estavam em um beco gelado no limbo, e eu as vi.

Fazem parte do inferno.

Meus diamantes brutos deslizam no lodo a caminho do abismo, não importa. 
De nada me valem.

Nenhum ruído ouço agora.

Manifesto apenas apenas a dor das limitações.

21/10/2006