O homem grisalho entrou pelo portão dos fundos. A lua ofuscava-lhe os olhos; estupenda e imponente infeitiçava metade da Terra derramando raios.
O homem lá estava, e sob a lua rebuscava o menino que fora na infância lá em seu fundinho de peito solitário, trazia à lembrança molecagens junto aos anciãos na varanda; tinham as faces enrugadinhas, adocicadas de risos e coradas de sol, morriam de rir em suas anedotas contadas enquanto tomavam o café da manhã com bolo de limão. Seus olhos em raros momentos entristeciam-se. Por vezes eram nostálgicos.
Rememorava o homem a vista para o moinho que ficava ao lado da igrejinha onde ía aos domingos pedir pelos desamparados; incluia pedidos fervorosos em rezas aos céus à dizimação dos “pestinhas” silvestres enquanto desperdiçava água benta esguichada aos mesmos. Estes eram verdadeiros destruidores – alguns comiam os ovos das galinhas chocadeiras que a mãe vendia para comprar fubá.
De volta à realidade, por horas ficava a olhar as trancas apodrecidas do portão, as tábuas do paiol rangendo e confundindo os assovios dos ventos que desciam desenfreados a montanha. Lembrou-se que quando menino tinha medo dos tais ventos, achava que virariam grandes tornados e arremeçariam aos céus todas as criaturas por onde passasse enfurecido.
Os olhos do homem eram nitidamente profundos e observavam as muitas ruas de sua infância, onde corría a soltar os pássaros na intenção de uma aprendizagem de vôo numa simples observância. Pensava que com isso poderia também levantar vôo sobre as cidades contraiando a ciência e a tecnologia que inventavam aeronaves e balões; Achava que todos os habitantes viraríam pássaros exuberantes e imensos com plumas enormes e coloridas.
Podia ver toda a trajetória destinada aos homens: início, meio e fim. E trôpego percorreu as ruas; e sentiu o cheiro do vento, o sereno a invadir seus olhos úmidos de saudades. Chorou. Sentou-se na relva e chorou copiosamente.
Voltou a observar a casa vazia, aproximou-se e fechou as trancas apodrecidas, esqueceu o medo dos ventos e voltou a cidade com o coração cheio de lembranças.
Corina Sátiro - 23/02/2006
Arde saber que quem não vê os rios não entenderá as correntezas, e que nada há de se revelar num mundo silencioso e sem luz.
sábado, 23 de abril de 2011
terça-feira, 16 de junho de 2009
De Tempos Em Tempos
Após tanto tempo - tempos de sois - ainda cabisbaixa atirei-me à luminosidade que restava do por-do-sol. Enxergava-me agora como um velho tronco envelhecido no topo da colina, cheio de galhos secos, oco e vazio; tão vazio que quebraria-se com uma leve brisa. Ainda assim, lá estava ele. Mantinha-se de pé a olhar os vales como estivesse a calcular o tempo que lhe restava de vida.
E eu tinha certeza do que me ocupava a mente durante aqueles tempos em que brincava com as outras crianças nas calçadas em minha rua da infância: “ Amor era reservado somente aos deuses, nunca aos mortais” . Se fora eu parida por uma mortal, como saberia do meu destino amororo? Ah, mas nem todos os príncipes eram deuses e eu podia sonhar.
Bem sei de raiva, de ódio. É quase uma demência. Sentimentos destrutivos que adoecem a face e a alma dos homens dando-lhes a certeza de que nada valhe a pena, de que nada reconstruirão. Apenas caminham para a morte e a desolação. E eu choro com isso.
Corina Sátiro - 20/03/2000
E eu tinha certeza do que me ocupava a mente durante aqueles tempos em que brincava com as outras crianças nas calçadas em minha rua da infância: “ Amor era reservado somente aos deuses, nunca aos mortais” . Se fora eu parida por uma mortal, como saberia do meu destino amororo? Ah, mas nem todos os príncipes eram deuses e eu podia sonhar.
Bem sei de raiva, de ódio. É quase uma demência. Sentimentos destrutivos que adoecem a face e a alma dos homens dando-lhes a certeza de que nada valhe a pena, de que nada reconstruirão. Apenas caminham para a morte e a desolação. E eu choro com isso.
Corina Sátiro - 20/03/2000
sábado, 13 de junho de 2009
Prisões
Não aprisona-se viagens astrais
Prisões de mim, prisões de homens, prisões de pássaros,
Prisões de irmãos quase pássaros,
Porque se pássaros fossem
Sumiriam no azul do céu e mergulhariam no infinito.
Prisões de meus dias de sonhos
Mergulhados nas celas sombrias da dor da distância.
Prisões de mim, prisões de homens, prisões de pássaros,
Prisões de irmãos quase pássaros,
Porque se pássaros fossem
Sumiriam no azul do céu e mergulhariam no infinito.
Prisões de meus dias de sonhos
Mergulhados nas celas sombrias da dor da distância.
Te beijo irmão, com a dor do frio nos lábios calados da ausência.
Não chore, falamos amanhã;
Falemos de um novo amanhã.
Corina Sátiro - 20/05/2006
Não chore, falamos amanhã;
Falemos de um novo amanhã.
terça-feira, 12 de maio de 2009
Ilusão
A ilusão me leva ao ar montanhoso da terra onde nasci, e numa tarde fria vejo-me nua e medrosa a arrastar-me pelo piso molhado.
Onde haveria de chegar com tantos pensamentos?
Pensar é cansativo demais, por isso durmo às tardes inteiras; me levanto pelas madrugadas e pego-me a andar pela casa analisando as côres das cortinas das janelas da sala.
Lá fora o vento assovia medroso e anuncia a chuva fina, então recolho-me a tomar uma xícara de chá de maçã.
Quem sabe ao alvorecer meu coração já esteja ensolarado?
Corina Sátiro - 01/04/1995
Pensar é cansativo demais, por isso durmo às tardes inteiras; me levanto pelas madrugadas e pego-me a andar pela casa analisando as côres das cortinas das janelas da sala.
Lá fora o vento assovia medroso e anuncia a chuva fina, então recolho-me a tomar uma xícara de chá de maçã.
Quem sabe ao alvorecer meu coração já esteja ensolarado?
Corina Sátiro - 01/04/1995
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