terça-feira, 22 de setembro de 2015

Anjos


O cheiro de capim molhado que vem da chuva fina
Traz a libidinagem dos anjos rebeldes que inventam noites claras.
Vozes! Quantas vozes ouvidas e não distinguidas saem às ruas,
Meu Deus!
São armas!
De fogo,
De jogo!
Se amam, se enganam!
Seus caminhos azuis cheios de flores brancas estão à espera
Ao romper do dia.
A fantasia alucinógena lhes cairá bem ao amanhecer.
Juras desfeitas e há muito naufragadas;
Sonhos insanáveis que cansam as pálpebras, desatam os nervos.
Estão sempre a flor da pele. 
Amando, cantando, sorrindo, chorando.
Como são belos os anjos!
Se são dos céus, se são da terra, se são apenas anjos
Rebeldes e cheios de luz...
Vai saber!

Corina Sátiro - 10/10/2011

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Chá Das Cinco (Toma Comigo ?)

Não importa se é água com água.

Água com leite, água cuspida...

Que se beba em mãos em cuia,

Em latas enferrujadas,

Em latas rotuladas:

Bebam!
 

Meu cristalino não enfoca!

Parece bruma amanhecida de tão fria essa gente esquecida.

Deixem de falar " debaixo dos panos " coisa alguma!

Caiam as palavras em tons explícitos.

Que os barbados lavem os tímpanos!

 
E ouçam o que não nunca lhes fere.

É o que a mim parece que lhes acontece!
 
Nossas necessidades mínimas...

Basta de água!

Queremos nata, queremos sobras de leite, um pedaço do seu "queijo podre"!

Queremos terra!

 
E pro seu governo,  estamos enfermos.
 
Sem chá-mate, sem erva-doce... 

Isto nunca lhes dói.

Nem na carne, nem na alma!

Aos seus olhos nada acontece. Tudo está certo.

Porém, nos nossos olhos há uma agonia eternizada,
 
Agonia aguada.

Este é nosso chá das cinco... Tomem conosco!
 
Bem-vindos senhores!
 


Corina Sátiro – 19/05/2015

Música

As mãos deslizam no teu abraço
E eu traço o horizonte
Com os olhos no céu.
E surge a canção
Que ofereço, ou não.
Sim a dois.

A qualquer um ?
Qualquer que passe ?
Não.

As mãos deslizam no teu abraço
E eu traço contigo a linha da rua,
E canto!
Não tem céu nem estrelas,
A noite ganha tua beleza.

Caminho assim
Será perdi-me de mim ?
Ou perdi meu tempo?
E canto:
Rock,
Blue,
Tudo o que é sonoro vem absorver-me a alma agora.
Porque perdi o sono e a hora.

domingo, 13 de setembro de 2015

Nevoeiro


Na soleira da porta ainda estou com as duas canecas nas mãos.

Meus olhos abraçam o nevoeiro e rolamos pelo tempo;

Já dizia o poeta: “ O tempo não para!. Não para, não...”

Não há arrependimento, não !

Um dia a soleira quebrará...


Corina Sátiro  - 13/09/2015

sábado, 12 de setembro de 2015

Cantiga de Ninar

Numa noite chuvosa uma estrela no céu sentou-se a chorar.

Seu brilho acanhado nascido de um ventre perdeu-se nas nuvens,

Sumiu num tornado que veio do mar.

Um mar tempestuoso,

Com ondas gigantes!

- Quer me afogar ?

Mãe lua tristonha mergulha nas ondas e põe-se a nadar

Em busca do brilho

Que só uma estrela com luz tão risonha

Podia o mundo fazer acalmar.

Seus braços aflitos pediam aos gritos:

-Tornado, se vá!

Não brigue comigo,

Jamais serei teu castigo

Chegando dos céus, terra e mar.

E não é direito ofuscar minha estrela,

Fazê-la chorar. 

E mesmo sem brilho...

Sou lua minguante,

Eu sempre sou mãe no espaço que é meu!

“Nana, neném” ...


Corina Sátiro – 05/03/2002

 

Casa Velha

Agora sou uma casa

E de minhas paredes os emboços caem

Cheios de histórias

Sou uma casa fechada e cheia de tolas lembranças 

Adiante uma rua e uns poucos raios de sol
 
Os vejo entrar pelas frestas da janela dos fundos

E também pelo telhado partido

Agora sou uma casa velha
Vazia e cheia de histórias
 

12/11/2016

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Aldeia


Passam-se as horas na aldeia onde estreito-me na rede de linho branco do pequenino chalé

Onde o sol batera quente deixando o cheiro da terra mais forte.

Visualizo o horizonte laranja.

Sua presença é tão forte que às vezes ouço seus passos,

Posso sentir suas mãos tocar meus cabelos.

A saudade tem o cheiro da chuva...

A mesma que acompanha este vendaval e não tem

Forças para apagar meus sonhos,

Pois são mais que belos; são mágicos!

Penso na distância e não quero pensar!

Preciso observar o horizonte que aos poucos escurece acalentando a aldeia.

Nos primeiros passos da noite contrasta com um pequeno ponto luminoso no céu.

Talvez seja algum amor perdido...

Quando amamos sem “freios” é natural a perda da direção e do espaço.

A noite joga-se por toda a aldeia trazendo só o silêncio, e eu adormeço sem você.

Sonho com lençóis de seda e frutos maduros.

Ouço a queda d’água na cascata que bate com violência nas pedras e rolam sem direção.

Estou sem direção.

Meu mundo é de água e desloca-se a caminho de um mar solitário.

Tudo é lindo e triste sem você.

Até quando terei que esperar por você?

No próximo ano a aldeia terá índios e uma festa linda,

Cheia de frutos e flores só para nós.

Cantaremos as canções dos nativos para espantar nossos medos.
                                                                                                                                            

Sátiro - 06/09/2015